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Coluna Ciclo Ambiental

19//06/2020- 18:30

PorEditor1

jun 19, 2020

Por: Juliana Silva

 

Engenheira Ambiental

Especialista em Saneamento Ambiental – IFTM Uberaba

Mestre em Sustentabilidade Sócio Econômica e Ambiental – UFOP HIDROEX Frutal

 

O celular desperta, são cinco horas da manhã. A cidade inteira ainda está apagada, dormindo, descansando, e nós já estamos de pé colocando o uniforme, a sapatilha, lavando o rosto, enfim, nos preparando por que hoje é dia de pedal. O café é reforçado, afinal de contas, hoje o corpo será levado ao extremo, as energias serão utilizadas ao máximo, os músculos trabalharão de uma forma extenuante e contínua. No grupo, todos já deram bom dia, ansiosos por encontrarem uns com os outros e partilhar essa energia que só esse ambiente proporciona. É hora de sair de casa, ligar o GPS, colocar o capacete, as luvas, pegar a mochila de hidratação e ir. A natureza nos espera lá fora, as paisagens e os animais estão lá, prontos e ansiosos pelos registros magníficos feitos pelos celulares atônitos pela melhor foto possível.

Mas, o que nos faz acordar tão cedo e sair do conforto do nosso lar, da nossa cama, para levar o corpo ao limite? Como isso pode trazer algum tipo de relaxamento mental, espiritual, ou seja lá qual for? Como explicar para as pessoas que não praticam esse esporte o que é que nós sentimos, o que nos motiva e porque fazemos isso?

Pois bem, esse texto buscou inspiração nos ciclistas araxenses, além de um de renome internacional que atualmente também mora em nossa cidade, para tentar repassar as pessoas que ainda não praticam esse esporte o que é que nós sentimos e porque fazemos o que fazemos em cima da bike.A ideia foi tentar responder a essas e outras questões através de frases escritas por eles, além de te fazer pegar a sua bicicleta agora mesmo e sair por aí pedalando.

Vamos começar com um dos maiores incentivadores dos iniciantes no mundo do pedal em nossa cidade, o grande Henrique Luiz Angelo – Criador do Grupo Zombiebiker´s,um dos maiores grupos de pedal da nossa cidade, fundado em 2015, ele também é proprietário da empresa Seguintel Ltda. (Sistemas de Segurança), para ele “O prazer de pedalar está na sensação de liberdade, na determinação, no quebrar barreiras, na superação do seu corpo e da sua mente e, acima de tudo, nos momentos mágicos que só o pedal em grupo pode nos proporcionar. Isto me motiva todas as semanas a sair de casa e sempre repetir, as vezes diariamente, tendo sempre no retorno o “gostinho” de quero mais. É incrível”. Henrique compartilha do mesmo pensamento de Lance Armstrong, um dos maiores atletas de ciclismo de estrada do mundo, envolvido em inúmeras polêmicas que não vem ao caso para a temática desse texto, mas que em um trecho do seu livro escreveu o seguinte: “O ciclismo é uma atividade física tão exigente e o sofrimento que pode provocar é tão intenso, que é algo purificador. Você pode sair para pedalar como se suportasse todo o peso do mundo sobre os seus ombros, e após pedalar por umas seis horas, chegando ao limite da dor que consegue suportar, você se sente em paz”. Pode ser que seja algo como se todo o cansaço físico representasse um filtro que retira da mente e do corpo aquelas preocupações e aquelas dores sem fundamento que aparecem na gente do nada. Quanto mais cansaço durante a pedalada, mais “purificado” o corpo fica.

Para Camila Borges Caixeta, Enfermeira na Secretaria Municipal de Saúde e Professora no Uniaraxá, sair para pedalar representa a certeza de que voltará melhor. Camila é uma das ciclistas da cidade que mantém maior assiduidade nos pedais, pedala há 5 anos, todas as semanas e, segundo ela, essa rotina faz um bem danado. Ela ainda diz“Aproveito esse tempo para pensar, contemplar, resolver problemas ou simplesmente pedalar”. Digamos que a Camila achou na bicicleta a solução para toda essa pressão diária que recebemos de inúmeros lados. Quem não anda com a cabeça cheia por tantas notícias pesadas que nos são despejadas diariamente? Quem não sente o peso do mundo nas costas e busca loucamente uma válvula de escape que seja capaz de arejar a mente, a cabeça? Aí está! A Camila achou a solução para tudo isso através do pedal. Seu comprometimento com a bicicleta revela muito do respeito e cuidado que ela tem com a sua saúde mental. Seria como uma dose semanal de um relaxante mental que ela não abre mão de usufruir, e isso há mais de 5 anos. Um verdadeiro exemplo para todos nós, principalmente para nós mulheres.

Mas a bicicleta não possui apenas a capacidade de fazer bem para o indivíduo de forma singular não, ela é capaz de fazer aflorar sentimentos de amizade que dificilmente apareceriam em ambientes comuns do nosso dia-a-dia, tão competitivo e que nos força a sermos tão individualistas. Para Flávio Augusto Laert Gerente de Produção, mais conhecido como Guto no mundo do pedal, a bicicleta vai além, “Na bike conheci a brutalidade compartilhada, fiz novos amigos, conheci lugares inéditos que só ela poderia ter me levado, e ainda, como motivo principal, ela cuida da minha saúde física e mental”. É no pedal, no perrengue mesmo, que você vai olhar para o lado e vai ouvir aquela frase motivacional que vai te jogar para cima, que não vai deixar você desistir. Mesmo quando todas as células do seu corpo pedirem para você parar, mesmo quando a energia chegar ao fim, será exatamente nessa hora que um amigo ali do lado vai te colocar pra cima e vai te mostrar o quanto você é mais capaz do que imagina, o quanto de força e energia ainda existem aí dentro de você pra que você vá muito mais longe do que um dia imaginou. Cairo Laert é Técnico em Eletrônica, irmão do Guto, sempre pedalam juntos, representam inspiração para muitos ciclistas iniciantes que pretendem um dia chegar ao nível deles. Para ele sair para pedalar representa praticar um esporte, estar em contato com a natureza e encontrar amigos. Ele também curti participar de competições, principalmente ultramaratonas, onde o corpo é levado ainda mais ao extremo. De encontro com esses sentimentos expressos nas palavras dos dois, vale a pena citar uma frase do grande Raul Seixas que diz o seguinte: “Sonho que se sonha só é só um sonho que se sonha só, mas sonho que se sonha junto é realidade”. Essa frase representa muito o sentimento que a bike faz aflorar no Guto, no Cairo e em todos nós ciclistas, não se consegue completar uma ultramaratona ou mesmo um pedal longo sozinho, é preciso parceria, é preciso saber que existe alguém ali torcendo por você, te incentivando e que vai lutar até a última gota de suor para cruzar a linha de chegada do seu lado. Esse nível de amizade tão sólido, tão forte, tão especial, vem desses momentos de perrengue mesmo, de cansaço extenuante, nessas horas onde nem mesmo nós acreditamos que ainda temos potencial ou força para qualquer conquista, por mais simples que seja. Uma amizade que surgi em uma hora dessas,com toda a certeza do mundo, será sólida como um diamante e durará pela eternidade.

E quando a relação com a bicicleta se torna algo tão profundo que ela acaba se tornando sua profissão?! Foi isso que aconteceu com o Rubinho Valeriano, o famoso R1, atleta profissional da Sense, medalha de prata nos jogosPan-Americanos do Rio de Janeiro em 2007; 21º lugar nos jogos olímpicos de Pequim em 2008; Campeão Brasileiro de MTB XCO em 2007; 5º lugar nos jogos Pan-Americanos de Guadalajara em 2011; 24º lugar nos jogos olímpicos de Londres em 2012; 30º lugar nos jogos olímpicos do Rio em 2016, dentre inúmeros outros prêmios que não caberiam nas folhas deste jornal caso resolvêssemos coloca-los todos aqui. O que mais o motiva é a paixão pela bike, ele ainda diz “Quando estou pedalando sinto uma conexão incrível com a bike e a natureza principalmente. Ao chegar em casa depois de um treino de tiro, por exemplo, às vezes sofrido e doloroso, sinto uma satisfação imensa de que superei mais um dia e me sinto realizado e evoluindo em muitos aspectos. E o melhor de tudo é que essa minha paixão pela bike, pelo esporte, hoje em dia é minha vida, minha profissão, é quem eu sou”.Fazendo uma análise das palavras do Rubinho a gente vê que quando a bicicleta ultrapassa as barreiras dos pedais iniciantes, dos pedais longos, dos pedais de galera, e passa a ser a sua profissão o cenário muda, as responsabilidades aumentam, mas o grande segredo é manter o sentimento inicial de paixão pelo esporte, assim como o R1 disse e faz até hoje.

No mais, não importa se você está começando agora, se já tem mais de um ano, dois, cinco, ou se já pedalou mais da metade da sua vida, o importante é sempre lembrar do sentimento inicial, da primeira sensação que a bicicleta te traz quando você lembra dela, quando lembra daquele pedal com os amigos, quando lembra daquela subida que antes era intransponível para você e que hoje já não é mais. O que realmente vale é o que a bicicleta causa em você que te faz repetir a dose sempre. Não deixe nunca o sentimento inicial que a bike te proporcionou ir embora. Para aqueles que ainda possuem alguma dúvida sobre pedalar ou não pedalar, releia esse texto quantas vezes julgar necessário, sinta a energia e a vibração que esse esporte causa nessa galera, nessas frases, levante do sofá correndo e vá lá fora viver o mundo em duas rodas.

 

Juliana de Fátima da Silva

É engenheira ambiental, especialista em saneamento ambiental, mestre em sustentabilidade socioeconômica e ambiental. Analista ambiental em uma empresa de consultoria e professora. Pedala de forma contínua desde o ano de 2016. Já participou de inúmeras provas de mountain bike em nossa região e em 2019 do Iron Biker Brasil na cidade histórica de Mariana – MG.

 

Coluna Ciclo Ambiental

Essa coluna trará indagações sobre a prática de ciclismos (de estrada ou moutain bike), e sobre as questões relacionadas ao meio ambiente. A ideia e mostrar os bastidores dos pedais, os principais pontos para essa prática esportiva que tem ganhado tantos adeptos, principalmente em nossa cidade. Além de tratar das inúmeras questões ambientais que nos são apresentadas diariamente.

 

 

 

Por Editor1

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