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Crônicas Francelino Cardoso Junior

Francelino
Francelino Cardoso Junior

 

17 01 27 COMO SOFREMOS, NÓS OS PESCADORES…

 

Há uns vinte dias de ferias forçadas, pois dez tivemos que tirar por conta própria, porque, o patrão muquirana, não abria mão destes poucos dias. Estávamos nas margens do lindo rio Juruena, naquela praia maravilhosa e tínhamos o apoio do índio Cutá, nosso guia. A praia, que fazia a divisa entre o rio e a grande mata nativa, era linda e ainda, éramos servidos por um veio de água que descia da mata. Como é difícil a vida de pobre meu, a gente consegue uns dias de folga e tem que tirar o resto, por conta própria. É como diz o nosso fiel amigo e cozinheiro Benedito, o pobre vive de teimoso, nestas pescadinhas de poucos dias sem o menor conforto. Mas vamos assim mesmo, como grandes heróis, xingados injustamente por nossas gloriosas sogras… Porem gente, com todas estas dificuldades, nos ainda continuamos pescando, passando dias sem conforto, enfrentando chuvas, estradas ruins…

Eram ainda cinco da matina, Benedito já gritava que o bagua estava pronto, depois de enchermos a pança, fomos ao trabalho. Pescávamos ali pertinho das barracas mesmo, onde o rio fazia uma curva e formava uma pequena ilha, com grandes arvores, tendo também, monstruosas pedras formando uma verdadeira laje, onde podíamos sentar numa sombra muito gostosa. Ali foi feito uma ótima seva, porque Benedito vinha naquele lugar, lavar suas panelas e apetrechos da cozinha. Naquele cantinho pudemos fisgar grandes peixes, cacharas, tucunaré açu, cachorras e até uma linda pirarara. A vantagem era estarmos pertinho das barracas e com isto, pescávamos ate a noite, onde eram fisgados os grandes exemplares.  Nas noites, as grandes onças, canguçus e suçuaranas, esturravam, chamando suas companheiras para o acasalamento, eram grossos miados muito espalhafatosos, enchendo a mata de sons, quebrando a monotonia da noite selvagem.   Ficávamos atentos, ouvindo aquele grande show, tenso ainda, começávamos á ouvir os latidinhos das rapozinhas ali pertinho das barracas. Elas cachorros do mato, gambás, tatus, vinham ali, comerem os restos de comida, que Benedito colocava em um cocho, para trata-los. Nas manhãs eram os passarinhos e as saracuras que faziam a festa, eram nossos despertadores, fazendo a alvorada festiva do lindo mundo selvagem.  Eram dias inesquecíveis, porem tínhamos que trabalhar muito, pois vocês nem imaginem…

                                               COMO SOFREMOS, NÓS OS PESCADORES…

francelinocardosojr@hotmail.com