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Por: Alcino de Freitas.

Conheci José Domingos deMorais (Dominguinhos) aqui em Araxá, quando ele e o violonista Yamandu Costa fizeram uma apresentação no Cine Brasil. Nesta ocasião, tive o prazer de entrevistá-lo. Dominguinhos, um homem simples, educado, de fala mansa, e que ganhou fama mundial por meio de sua vivência com a música. Na oportunidade, contou-me que já havia gravado 39 discos e tinha mais 22 participações em outros. Durante a nossa entrevista, fui direto ao assunto e lhe perguntei: “Você se considera um discípulo de Luiz Gonzaga”?

Com a maior humildade respondeu-me: “Acho que sou um seguidor mais próximo”.

E daí contou-me como foi que conheceu Luiz Gonzaga, o “Rei do baião”. “Eu o conheci em Garanhuns, minha terra natal. Tinha apenas 8 anos e não sabia quem era ele. Eu e meus dois irmãos, Morais e Valdomiro, tocávamos na porta de um hotel, onde Luiz Gonzaga estava a jantar. Ele nos ouviu, saiu do hotel, foi até onde estávamos e nos deu um bolo de dinheiro e um cartão com o seu endereço no Rio de Janeiro. Naquela época, quem tinha um rádio era rei, emeu pai não tinha, mas o mais importante foi o endereço. Anos depois, quando eu já tinha 13 para 14 anos, meu pai disse: “Vou embora para o Rio de Janeiro, morar em Jatala e vou procurar o Luiz Gonzaga para ver se ele pode nos ajudar”. E assim deu-se a viagem num “pau de arara”, durante 11 dias, até chegarmos no Rio, em Nilópolis. No outro dia, fomos acasa de Gonzaga, que morava no Meyer, e Maria da Graça nos recebeu. O incrível é que Luis Gonzaga estava em casa e disse ao meu pai:‘Vocês são lá de Garanhuns! Entre, seu Francisco, o senhor e seus meninos’. Foi dentro de um dos quartos, pegou uma sanfona de 8 baixos e entregou a meu pai. Aíeu fiquei por ali, porque a gente nem instrumento tinha.Foi uma redenção, com o instrumento deu tudo certo. Também não deixei mais a companhia dele; todo dia eu ia para lá, ver ele tocar. Teve época em que ele tocava com a Marinês, o Abdias, eles ficavamsempre ensaiando, ele gostava muito de ensaiar as letras das músicas e tal. Mas eu não saí mais de perto dele. Houve uma época que tinha acordionistas“a dar com pau”. Chinoca, da Rádio Nacional; Sivuca, que chegou logo em seguida com novidade na bagagem, quero dizer, um sanfoneiro diferente; Gaúcho do Acordeon; Edinho; era Orlando Silveira do Regional do Canhoto. Rapaz, era uma maravilha, então eu fui me ajeitando por ali, ouvindo um, ouvindo outro. Com Gonzaga, eu cuidava do baião e com os outros, eu partia para o choro, para a música regional. A Bossa Nova chegou e eu continuei tocando baião, tocando bossa nova e o que ia aparecendo. Assim fui fazendo minhas excursões, ouvindo os amigos, Chiquinho do Acordeon e também um gaúcho que tocava com o Radames…”

E foi assim, com esta simplicidade e inteligência,que, José Domingos deMorais (Dominguinhos), tornou-se famoso,conhecido mundialmente por suas apresentações e suas composições. Faleceu aos 72 anos, após estar internado desde o início do ano. Que a sua alma descanse em paz.

Por Editor1

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