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Mesmo com a crise europeia e a volatilidade dos mercados globais, o setor de energias renováveis teve um bom desempenho em 2011. É o que mostra um relatório do grupo de pesquisa sobre mudanças climáticas do Deutsche Bank. Os investimentos em fontes renováveis subiram para US$ 140 bilhões nos primeiros nove meses de 2011, contra US$ 103 bilhões no mesmo período de 2010.

O ano foi, porém, caracterizado por tendências contraditórias. Uma combinação de alta nos preços do petróleo, temor em relação à energia nuclear e falta de fontes energia fóssil colocou o tema da segurança energética no topo da lista de prioridades de alguns países como a Alemanha e o Japão. Esses países anunciaram a decisão de reduzir a dependência em relação à energia nuclear. A Alemanha vem fortalecendo sua política que estimula o uso de energia solar e eólica e vai parar de usar energia nuclear até 2020. E o Japão anunciou que sua matriz energética deverá ter 20% de fontes renováveis até 2020.

Por outro lado, restrições fiscais causadas pela desaceleração da economia geraram uma tendência na direção oposta: de desestímulo a programas de incentivos para o uso de energia mais limpa em muitos países, como os EUA (principalmente no nível federal), Itália, Espanha e na Europa em geral. O suporte às novas fontes sofreu retrocessos. Mas nos Estados Unidos, embora os recursos financeiros tenham escasseado, a agência ambiental Americana (EPA) vem apertando o controle sobre as usinas de carvão devido às suas emissões de poluentes.

Esse cenário de redução de investimentos foi também compensado pela queda dos custos de energia renovável, em especial a solar e a eólica, cujos equipamentos têm preços em queda devido aumento de produção na China. Os chineses, por sua vez, continuam a avançar em todas as fontes de combustível de baixo carbono. A política nacional para mudanças climáticas do país prevê um aumento constante do uso de novas fontes energéticas, com previsão de as energias não fósseis responderem por mais de 10% do total em 2015.

A China e os Estados Unidos são os maiores poluidores do mundo, mas paradoxalmente, são os que mais atraem investimentos em energias renováveis, segundo a consultoria Ernst & Young. O Índice de Atratividade das Energias Renováveis, calculado trimestralmente pela consultoria, mostra a seguinte divisão dos investimentos entre 2000 e 2010: 42% para a eólica, 25% para a solar, 20% para a biomassa, 5% para as pequenas hidrelétricas, 4% para a geotérmica e 4% para a energia dos oceanos. Estes investimentos foram conduzidos principalmente pelo crescimento da Ásia e da América do Sul, pelo fortalecimento da biomassa na Europa e pela recuperação do crescimento nos EUA.

Os dados indicam uma predominância dos países do Hemisfério Norte nas primeiras posições. O Brasil está entre os 15 mais atrativos para os investimentos renováveis, e vem subindo posição nos últimos trimestres.

Exatamente para estimular que outros países da América Latina também aumentem seus investimentos em energias renováveis, o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) aprovou a criação de um fundo de investimento de US$ 30 milhões destinado a encorajar o setor privado a desenvolver tecnologias limpas e energias renováveis na América Latina e no Caribe. Batizado de Fundo Latino-americano para Energias Alternativas II, o dinheiro poderá ser aplicado em projeto de energia eólica, solar e geotérmica, assim como na construção de pequenas hidrelétricas. Empréstimos também poderão ser tomados por companhias de serviço ambiental que trabalham com a gestão de resíduos, biomassa, eficiência energética e projetos de redes inteligentes.

PARA FICAR DE OLHO

Redução do desmatamento – A produção de soja no Mato Grosso aumentou mais de 30% entre 2006 e 2010, saltando de 15 milhões para 20 milhões de toneladas. Esse crescimento, porém, não aconteceu a custa do desmatamento. Estudo que está sendo publicado na revista “Proceedings of the National Academy of Sciences” (PNAS) revela que houve uma desvinculação entre o crescimento da produção de soja e o desmatamento no Mato Grosso nesse período. O desmatamento no estado, maior produtor nacional, também diminuiu 30% no mesmo período, atingindo 850 km² em 2010. A maior produção ocorreu por meio do aumento na produtividade e na utilização de áreas já desmatadas para o cultivo da oleaginosa, dispensando a necessidade de desmatar mais áreas de floresta, aponta a estudo internacional.

* Fatima C. Cardoso é jornalista, com Pós-Graduação em Ciência Ambiental, e especialista em assuntos ligados à sustentabilidade e responsabilidade socioambiental.

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