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Verticalização na Educação Básica: reflexões sobre um tema importante

 

 

O tema da verticalização não é novo na área educacional apesar de geralmente pouco explorado. Contudo, práticas ou arranjos verticalizados em Educação são utilizados no Brasil desde o século XIX. Isso constitui de certa forma um paradoxo observar que apesar de comum a verticalização é no geral pouco estudada, percebida, teorizada e por consequência invisibilizada.

O termo verticalização não é usado apenas na área da Educação. Tudo indica que sua origem remonta a área de Urbanismo. Nos estudos sobre o espaço urbano é comum ouvir dizer de cidades horizontalizadas e verticalizadas. Na área industrial ele também é utilizado e se refere a uma estratégia em que certas fábricas procuram produzir tudo que demandam em toda a cadeia produtiva.

Na Educação, a verticalização assume dois significados. O primeiro se refere às instituições educacionais e o segundo à formação dos estudantes.

No primeiro trata-se de escolas que oferecem diversos cursos na mesma área do conhecimento, compartilhando corpo docente, instalações, expertise, bibliotecas, etc. Um exemplo é o caso dos CEFETs e Institutos Federais que oferecem cursos técnicos, superiores e pós-graduação na mesma área. Exemplo: Técnico em Administração, Bacharelado em Administração e Mestrado em Administração.

No segundo trata-se de estudantes que procuram verticalizar sua formação realizando cursos na mesma profissão ou área do conhecimento, ainda que em instituições diferentes. Exemplo: Técnico em Edificações, Engenharia Civil e Mestrado em Engenharia Civil.

Contudo, nem todas as verticalizações são iguais. Tanto no caso das instituições, quanto dos estudantes existem algumas variações. Quando a verticalização ocorre na mesma área do conhecimento e mesma profissão, dizemos que se trata de uma verticalização perfeita ou simétrica, como nos dois exemplos citados anteriormente. Contudo, a verticalização pode ocorrer também por similaridade, quando os cursos são na mesma área do conhecimento, mas não na mesma profissão. Exemplo: Técnico em Enfermagem e depois Bacharelado em Fisioterapia. Essa verticalização por similaridade pode ocorrer tanto nas escolas, quanto na trajetória formativa dos estudantes.

Contudo, alguns educadores já observaram que os estudantes verticalizados, simétricos ou similarizados, acabam recebendo uma formação mais sólida, mais ampla, o que resulta de vantagens deste tipo de forma de organização escolar. No caso das instituições os arranjos verticalizados permitem o aumento da oferta de cursos à comunidade e também podem contribuir para a melhoria da qualidade da Educação oferecida.

Outro tipo de verticalização ainda menos notado é a chamada verticalização invertida. Esta ocorre geralmente quando o estudante realiza primeiro o curso superior e depois o técnico na mesma profissão ou na mesma área. Um exemplo seria a seguinte ordem: Bacharelado em Administração e depois Técnico em Administração. A verticalização invertida também pode ocorrer de modo simétrico ou similar.

No caso das instituições, a chamada verticalização invertida ocorre quando, por exemplo, a instituição inicialmente ofertava o superior e depois passa a disponibilizar um curso técnico na mesma área. Algumas instituições universitárias também começam ofertando certos cursos de pós-graduação e depois passam a ofertar cursos de graduação na mesma área.

Agora tanto no caso das instituições, quanto dos estudantes quando resolvem criar cursos ou então obter formação noutras áreas diferentes daquelas que já possuíam, dizemos que está ocorrendo então uma horizontalização.

Contudo, alguns estudos na atualidade têm apontado alguns aspectos importantes com relação a verticalização. Primeiro são os benefícios deste arranjo educacional e formativo. Se os estudantes verticalizados obtêm uma formação mais completa, pressupõe-se que tal prática deveria ser mais incentivada, o que nem sempre acontece. Segundo, é que a falta de Orientação Profissional adequada e no momento certo, pode comprometer a realização e a concretização de trajetórias formativas verticalizadas. Por que? Ocorre que para um estudante trilhar um caminho verticalizado, as primeiras escolhas deveriam ser refletidas e o mais acertadas possível. Para isso é preciso que o tema do trabalho e do Mundo do Trabalho esteja presente em toda a escolarização e não apenas na formação escolar para o trabalho seja técnica ou superior.

Mas no geral, os estudos ainda são insuficientes. Por exemplo, o tema da verticalização na Educação Básica é praticamente inexplorado. Existe verticalização na Educação Básica ou apenas na Educação Profissional e Superior? Caso afirmativo quando e como ela ocorre?

Interessante observar que Brasil afora existem inúmeras escolas que ofertam cursos de Ensino Fundamental e Ensino Médio aproveitando o mesmo prédio, mesmo corpo docente, biblioteca, refeitórios e cantinas, instalações esportivas, dentre outros. Ou seja, verticalizando suas ofertas educacionais na Educação Básica. Isso não é recente no Brasil. Para ficar apenas em dois exemplos famosos cita-se o já extinto Colégio do Caraça (MG – 1820 a 1968) e o Colégio Pedro II (desde 1837).

Isso ocorre em muitas escolas, mas não em todas. Importante, observar que muitas escolas se limitam ao Ensino Fundamental ou apenas ao Ensino Médio. Conheço escolas públicas e privadas de Ensino Médio que ofertavam o Ensino Médio Regular e depois optaram pelo oferecimento do Ensino Técnico, diversificando sua oferta, ou seja, horizontalizando, ao invés de ofertarem, por exemplo, o Ensino Fundamental.

Portanto, a verticalização e também a horizontalização, podem ocorrer na Educação Básica e não apenas na Educação Profissional e Superior. Isso é importante ser observado para compreendermos a dinamicidade da Educação e também a diversidade de arranjos necessários para o atendimento das demandas sociais.

São temas que estão presentes no nosso cotidiano, mas nem sempre observados com a cautela que demandam e nem sempre teorizados com o devido rigor. As escolas verticalizadas são melhores ou piores? A verticalização é mais estudada na Educação Profissional, mas isso não significa que seja uma exclusividade deste tipo de escolarização.

Temas como verticalização e suas relações com Orientação Profissional e integração curricular ainda são subavaliados. Existem alguns estudos que abordam a precarização do trabalho docente, ou sobrecarga de trabalho, em Institutos Federais e apontam a verticalização como um dos seus fatores.

Quais são as vantagens e desvantagens da verticalização para estudantes e instituições? Quais sãos os perigos e potencialidades?

Enfim, há muito por fazer e estudar.

 

Prof. Luciano Marcos Curi – Pós-Doutor em História Social – IFTM – Câmpus Uberaba – Contato: lucianocuri@iftm.edu.br

Por ego

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