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CUIDADO COM O MANDRUVÁ

29//08/2014- 17:02

PorEditor1

ago 29, 2014

Por Lobo Júnior

Ao pensarmos em insetos que nos agradam, com certeza nos vem a mente a ordem dos Lepidópteros, família das mariposas e borboletas (LEPIDO = escama + PTERO = asa). Simpáticas, belas e coloridas, que enchem os olhos de quem as contemplam – exceção feita à pessoas traumatizadas na infância. Tornam-se assim objeto de desejo por pessoas que tentam eternizá-las na forma de tatuagens, coleções, fotografias ou simplesmente esperando seu pouso no próprio corpo, que segundo a crença folclórica, é sinal de boa aventurança.

Mas para que se chegue a essa fase bela, chamada pelos biólogos de IMAGO, sua última transformação já adulta dessas criaturinhas, borboletas e mariposas emergem de ovos sobe a forma de larvas (lagartas) e é nesta fase que HOMEM e ANIMAL conflitam ao conviver em harmonia. Numa análise fria, as ditas larvas são consideradas pragas em plantações de hortaliças e frutais que acarretam prejuízos consideráveis por parte de agricultores. Por outro lado existem as preocupações de saúde pública uma vez que as lagartas de algumas mariposas, as chamadas “taturanas” (do tupi, TATA = fogo + RANA = semelhante/igual) possuem filamentos que, se tocados, liberam Histamina, um composto químico, vasodilatador, neurotransmissor, que aumenta o fluxo de sangue na área afetada, causando vermelhidão, dor local, prurido e iniciando um quadro que pode evoluir para enjôos, vômitos, diarréias, saliva sanguinolenta, hematúria (causando a tal cor de refrigerante à base Cola na urina). Assim é o ERUCISMO, acidentes envolvendo os Lepidópteros, especialmente espécies da família Saturniidae, da qual destacamos a espécie Lonomia obliqua, ou simplesmente Taturana oblíqua (FOTO A), natural do Sul do Brasil (abundante em Passo-Fundo – RS). No entanto desde os anos 90 seu avançar, rumo ao Norte vem preocupando a comunidade científica. Oficialmente essa “subida” foi verificada em santa Catarina, Paraná, São Paulo. Mas qual não foi a surpresa desse naturalista quando me deparei com um exemplar em Araxá (na rodovia 146, pouco antes do trevo da BR-262), o problema é que recentemente sua existência estava restrita ao interior paulista e em um canal de TV foi negada por um biólogo seu avistamento em nossa região. Não é mais, a Taturana-assassina, como também é conhecida anda se adaptando ao Cerradão.

Com apenas 7 cm, a Lonomia não é um animal que ofereça perigo sob forma ativa, na verdade seu perigo começa com o contato com suas espículas, espinhos localizados nas cerdas em formato de pinheirinhos sobre o dorso da larva. São relatados cerca de 400 casos por ano, segundo o Instituto Butantan, destes 9 foram fatais (desde 1989 a 1995 – ano que a instituição criou o soro antilonômico). A maioria das vítimas têm o dito mal-estar atenuado em até 72 horas. O perigo reside em encostar-se em uma colônia dessa espécie que tem hábito gregário (de juntar-se) em grupos com cerca de 20 a 50 indivíduos (FOTO B), façanha conseguida subindo em árvores, geralmente. A Histamina injetada reduz os níveis de Fibrina, substância que responde pelo processo de coagulação do sangue, causando hemorragias em vários órgãos internos. Como medida emergencial deve-se fazer uma compressa de água fria sobre o local atingido; captura da larva – sem contato físico, claro – para confirmação da espécie e atendimento hospitalar. Anti-histamínico, corticóides e demais drogas para atenuar o quadro que pode ser LEVE, MODERADO ou GRAVE, com sangramentos externos e internos (pulmão, rins e até o cérebro), se faz necessário.

Terrores à parte, resta-nos saber o fator determinante que vem causando esse alastramento da Lonomia obliqua e, consequentemente buscar-mos a melhor solução de impedir esse avanço sem aumentar os danos que algumas vãs tentativas de controle de pragas  foram desastrosamente piores do que o problema em si, do qual não sabemos se somos culpados ou se sua disseminação não faz parte de um plano maior que nossa parca compreensão. O triste é estendermos essa culpa à outras borboletas e mariposas inocentes nessa estória. Bem a própria Lonomia quando adulta (FOTO C) nada oferece de perigo, ao contrário de nós, que quando crescemos…

Por Editor1

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