Para a tristeza dos amantes das letras e daqueles que ainda acreditam no livro como ferramenta de transformação social, alfabetização, disseminação do conhecimento, da paz e promoção de valores humanitários, terminou no último fim de semana em Araxá, a 4º edição do Fliaraxá. Mais que um evento de intercâmbio entre escritores e autores consagrados com feira de livros, lançamentos, palestras, oficinas e encontros inéditos, o Festival Literário de Araxá, tem um outro lado; alheio a holofotes e assédio da grande mídia. Durante uma semana, o JORNAL INTERAÇÃO, se dedicou a acompanhar alguns detalhes dos bastidores, retaguarda, coadjuvantes, serviço dos profissionais da limpeza, segurança, ambulantes e de gente comum que ajudaram a construir e realizar a história de sucesso pelo quarto ano seguido de um dos maiores Festivais Literários do Brasil. Três personagens anônimos chamaram a atenção da nossa reportagem: Com as mãos rudes e calejadas pelo ofício de varredora e auxiliar de limpeza, dona Maria Eunice Hordones, de 58 anos, não estava trabalhando no evento, mas empunhava com orgulho em suas mãos sagradas pelo trabalho duro mas honesto, um livro e um gibi da Turma da Mônica. Mulher sofrida, de poucos recursos e pouca leitura, dona Maria Eunice, não se conteve diante do universo das letras que tinha pela frente numa primeira vez e disse com entusiasmo juvenil, “ vim aqui hoje para comprar uma revistinha para minha netinha que adora ler, mas estou enfeitiçada pelos livros. Acho que a partir de agora a criança que vai devorar livros lá em casa serei eu, a vovó.” Na praça Arthur Bernardes, em frente ao portão de entrada da Fundação Calmon Barreto, assentado em um banquinho de madeira, seu Onofre Gaspar da Silva, um aposentado de 68 anos, vendedor de picolé, para ajudar a complementar o sustento da família, entre a venda de um sorvete e um picolé, aproveitava o tempo lendo um livro sobre casos de alcoolismo, que ganhou de presente de uma senhora que passou por ele. Mesmo dividido entre o trabalho e a leitura ele não se conteve e disse que, “ tenho quase 70 anos e nunca tive a oportunidade de ler um livro na minha vida. Se eu soubesse como é bom, diferente e interessante a leitura, eu certamente não estaria aqui hoje vendendo picolé para sobreviver perto dos 70 anos de idade.” O estudante Luis Felipe Marcelino, de 10 anos, morador no Bairro Pedra Azul, tímido e um pouco assustado com o tamanho da estrutura do evento, o menino se transformou ao entrar na livraria. Quando viu aquele mar de livros seus olhos perderam o rumo. Além do olhar de espanto e deslumbramento com os livros ele disse uma frase marcante, “ se eu pudesse, lia tudo isso sem parar.” O mais comovente foi ver um coleguinha de turma da escola dele com mais condições, presentear o encantado Luis Felipe com um livro de histórias infantil. O evento movimentou a economia da cidade durante os cinco dias e transformou para melhor a vida de muitas pessoas; famosos e anônimos. Segundo a organização do evento, em quatro dias de evento, cerca de 15 mil pessoas passaram pelo Fliaraxá. Ao todo foram vendidos 56 mil livros. Neste período mais de 40 autores, escritores, atores, jornalistas e gente ligada ao fascinante universo da literatura nacional e internacional, mobilizaram, encantaram e atraíram a atenção de um público fiel e especial, apaixonado pelos livros. O evento chancelado pelo Ministério da Cultura e Circuito Cultural CBMM, por intermédio da Lei Federal de Incentivo à Cultura, trouxe para o circuito mineiro de literatura vários autores de renome nacional e internacional para discutir leitura, literatura e educação para crianças, jovens e adultos. Consolidado como um dos principais festivais literários de Minas Gerais, o Fliaraxá já contou com as presenças de nomes como Zuenir Ventura, Luis Fernando Veríssimo, Milton Hatoum, Ziraldo, Fabrício Carpinejar, José Eduardo Agualusa, Mary Del Priore, Leila Ferreira, Marcel Souto Maior, Marcia Tiburi, Adélia Prado, Ruy Castro entre muitos outros. A edição deste ano reuniu em um único espaço nomes consagrados como: Maurício Tizumba, Paulo Netho e Salatiel Silva, Leo Cunha, Ailton Krenak, Marco Haurélio, Paula Pimenta, Ricardo Barros, Elisangela Soares, Luiz Ruffato, José Sanches, Thalita Rebouças, Davi Dewet, Bernardo Carvalho, Leopoldo Brizuela, Marina Colosanti, Jô Oliveira, Mônica Cunha, Laura Conrado, Pedro Gabriel, Fernando Bonassi, Ricardo Aleixo, Vicente de Brito Pereira, Sérgio Abranches, Francisco Azevedo, Gonçalo Tavares, Ana Elisa Ribeiro, Celso Adolfo, Pasquale Cipro Neto, Frei Betto, José Paulo Cavalcanti Filho, Nelson de Oliveira, Lya Luft, Lucrécia Leite, Nélida Pinhon, Marçal Aquino, Santiago Nazarian, Antônia Pellegrino, Xico Sá, Mírian Leitão, Mary Del Priore, Carlos Herculano Lopes e Maurício de Sousa.