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Parte 2

Jornalista Deusdedith de Aquino

Ainda neste norte, a plurilaridade excessiva de partidos políticos corrobora para o agravamento de uma situação enraigada culturamente no Brasil. As siglas, mesmo as que dizem fazê-lo, não representam propriamente um ideário. Não ocupam um lugar no debate mais amplo sobre os rumos da nação com idéias e propostas. Os eleitores, certamente um tanto por isso e um tanto mais por desengajamento, votam nas pessoas, pouco levando em conta os partidos aos quais seus escolhidos são filiados. Essa mentalidade serve tanto para criação de salvadores-da-pátria, contra-producentes e injustificáveis, uma vez que seja qual for a vitória conquistada esta sempre terá sido, obrigatoriamente, um esforço conjunto de muitos; bem como para forjarem-se bodes expiatórios, o que é também ruim, pois as pessoas são transitórias e não se deve depositar nelas responsabilidades de toda uma organização, ou partido político, no fracasso que for. Tudo isso, conforme estudiosos do tema quase unaninamente afirmam, fazem a política nacional por demais personalizada e transformam as agremiações em meras plataformas através das quais aqueles cidadãos que desejam exercer funções políticas legitimam-se a exercê-las. É um problema sério e o grande número de siglas contribui para torná-lo ainda mais grave.

Para melhor entender a questão, vale nos perguntarmos para que servem os partidos políticos numa democracia. Ainda com embasamento na doutrina especializada no tema, poder-se-ia dizer que os partidos servem para organizar as opiniões dos diferentes extratos populacionais. Traduzir-se-iam na estruturação das diferentes percepções de como a sociedade deve seguir seu caminho em direção ao objetivo comum de termos, todos, um futuro melhor. Não falamos aqui de classes, mas sim de aglutinação de cidadãos livres em torno de interesses comuns e de semelhantes formas de pensar sobre as questões fundamentais do país – desejavelmente com o foco no interesse público e dotados de um olhar de longo prazo. Esta estruturação social seria a função precípua dos partidos e por cumpri-la estes deveriam se legitimar a representar a população no âmbito político. A situação atual nos indica que estamos longe disto.

Conforme mencionado acima, nossos partidos políticos acabam servindo de meras plataformas formais, através das quais indivíduos possam exercer cargos políticos. Isto se demonstra claramente nos períodos eleitorais. Ali, todos os partidos tem algo a dizer, porém as atitudes dos eleitos são comumente desconexas com o que foi comunicado aos eleitores durante as campanhas eleitorais. Diante da inexistência de um conteúdo programático, pautado num desejável ideário sustentador deste ou daquele partido, os candidatos acabam por construir suas propostas pautados em pesquisas de opinião, resultando em respostas sempre “certas”, mas que podem não condizer com sua linha de pensamento e, pior, com a forma como irão atuar quando e se eleitos. Esta maneira quase mercadológica e objetivamente transacional de adequar-se candidaturas aos anseios prementes da população mina os pilares da democracia e configura um dos maiores males que pode acometer uma nação livre. Quando instalada, cria a oficialização da busca do poder pelo poder e isto finda por ruir, pouco a pouco, a estabilidade democrática de um país. A armadilha de experienciar-se a democracia apenas no espectro eleitoral é silenciosa,  entretanto fatal. Quando esta é a escolha quase desapercebida de um povo, as instituições acabam enfraquecidas e a instabilidade política vem à tona, cedo ou tarde, e toma conta deste ou daquele país. Instabilidade esta que, por sua vez, causa danos sérios à sociedade, emperram o desenvolvimento econômico e, consequentemente, atravancam o aprimoramento social; geram grandes rasgos culturais, por vezes desaguando em ódio e desentendimento que perduram por gerações. Este Boletim não busca afirmar que o Brasil está prestes a vivenciar uma ruptura institucional.Tampouco tenta argumentar que os partidos políticos são coisas ruins. Pelo contrário, são organizações essenciais à existência da democracia representativa e devem ser preservados. Preservados, inclusive, da indignação popular. E para tanto, precisam se legitimar continuamente, para que não se tornem alvo fácil de críticas, infelizmente, no momento atual, quase sempre bem fundamentadas.

(Continua na próxima edição)

 

Por Editor1

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