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Você já ouviu falar do século Oitocentista?

 

 

A maioria das pessoas sabe que estamos vivendo no século XXI (ou 21 em algarismos hindu-arábicos). O século que vivemos iniciou no ano de 2001 e terminará em 2100. Muitas pessoas também sabem e dão notícias do século XX (ou 20), que se iniciou em 1901 e encerrou-se em 2000. Mas e o século Oitocentista? Quando foi, o que ocorreu nele?

Um século corresponde atualmente ao período de cem anos, mas nem sempre foi assim. Essa medida de tempo tem uma longa história, mas tudo indica que começou a ser utilizada no sentido atual a partir da época medieval. Geralmente os séculos são designados por numeração romana, como, por exemplo, I, II, X, XV e XIX.

Mesmo assim, às vezes, a palavra século é utilizada como sinônimo de época e não corresponde exatamente a cem anos. Por exemplo: Século de Péricles, Século de Ouro, Século da Humilhação, Século dos Piratas e Século das Luzes. Essas denominações fazem referência a grandes acontecimentos de determinados momentos históricos.

Existem também nomes utilizados pelos historiadores e demais estudiosos para se referirem a determinados séculos específicos e não aludem a acontecimentos, mas a determinada “centúria de anos”. Por exemplo, nosso século atual é também chamado Vintecentista. O século anterior, o chamado XX (ou 20) é comumente chamado de Novecentista (1901 – 2000).

E o século Oitocentista? Pois bem, este nome corresponde ao século XIX (19) e iniciou-se e 1801 e encerrou-se em 1900. Existe uma explicação para origem deste nome. Ocorre que todos os séculos do segundo milênio depois de Cristo (d.C.) começam com a palavra “mil”, ou seja, do ano 1000 até 1999. Então o que diferencia qual período está sendo abordado dentro do segundo milênio acaba sendo a centena: 100, 200, 300 até 800 e 900. Para cada século criou-se uma denominação própria e para o século XIX, ficou sendo oitocentista, que deriva de 800, já que a quase totalidade dos anos deste século, com exceção do último (ano de 1900), depois do milhar, começam com oitocentos. Ou seja, 1801, 1802, 1803…, até 1899.

Assim, é comum encontrar livros que abordam algum aspecto do século Oitocentista, ou XIX (19). Então pergunta-se: este século teve algum fato especial? Na verdade, todos os séculos são especiais, pois neles nasceram e viveram milhões de pessoas que lutaram, construíram e plantaram diversos sonhos.

Mas, o século Oitocentista teve diversos acontecimentos que foram marcantes e decisivos para o formato do mundo em que vivemos na atualidade. Entre 1801 e 1900, “muita água passou debaixo da ponte”.

No mundo diversos fatos e acontecimentos marcantes ocorreram no século XIX, como as Guerras Napoleônicas na Europa, a Guerra de Secessão nos Estados Unidos e autores como Karl Marx, Lamarck, Charles Darwin e até mesmo Freud publicaram obras importantíssimas. Além disso, o surgimento do telefone, cinema, fotografia, automóvel, além da popularização da eletricidade também marcaram este século.

No continente americano ocorreram inúmeros episódios marcantes como a independência da maioria das atuais nações americanas. No início do século XIX, apenas os Estados Unidos havia alcançado sua independência, e quando terminou poucas colônias existiam nas Américas. Houve também guerras no continente que infelizmente marcaram época, como a já citada Guerra de Secessão nos Estados Unidos e Guerra do Paraguai.

No Brasil, diversos acontecimentos marcaram nosso país. Quando o século XIX começou o Brasil era uma colônia de Portugal, e quando terminou já éramos independentes, houve a abolição da escravatura, proclamação da República, elaboração de duas constituições, surgimento do café como produto econômico dominante de nossa economia, entre outros fatos.

Guerras, revoluções, independências, abolições, livros clássicos, novas ideias e novos sonhos, foram marcas do século XIX. Liberalismo e socialismo consolidaram-se no oitocentos.

Foi também neste século que se espalhou pelo mundo os impactos da Revolução Industrial, que se iniciou na Inglaterra, e das liberdades introduzidas pela Revolução Francesa. A revolução industrial criou um mundo onde riqueza nunca antes vista e pobreza nunca tão numerosa e agigantada conviviam lado a lado. As liberdades dos franceses se espalharam e em muitos lugares houve guerras de conservadores que tentavam barrar o desenvolvimento social, cultural e político da humanidade.

Enfim, um século não é apenas um período entre dois anos, entre duas datas. Para o historiador inglês Eric Hobsbawm, o século XIX foi na sua primeira metade um século de revoluções, depois seguido por um século de imperialismo. Para o historiador francês René Rémond o oitocentos foi o século do socialismo e do liberalismo, de grandes transformações na econômica, política, cultura e nos costumes. Os dois estudiosos argumentam que o tipo de sociedade que surgiu no século XIX chegou ao fim apenas com a Primeira Guerra Mundial (1914 -18), já no século XX. Por isso eles “esticaram” o oitocentos até o ano de 1914.

Muitas pessoas gostam de destacar que o Brasil independente ou o Brasil-Nação começou no século XIX e este foi um período importante para nossa história. Isso é verdade, mas é preciso também ressaltar que o Brasil também foi o penúltimo país do mundo a abolir a escravidão e tornou-se também uma nação onde a pobreza de trabalhadores e camponeses transbordava em praticamente em todo território brasileiro naquele século, de norte a sul, de leste a oeste.

Emocionante ou patético? Grandioso ou medíocre? Difícil avaliar o século XIX. Teve de tudo um pouco. Problemas sociais que existiam no início daquele século continuavam quase intocados ao seu término em muitos países, inclusive, no Brasil.

E nós que vivemos no século XXI? No século Vintecentista. Como queremos ser lembrados? Que mundo deixaremos às próximas gerações? Se o colapso ecológico vier, haverá mundo depois de nós?

Pensar nunca é demais. Trabalhemos então para que cada século seja melhor que os anteriores. Que cada um faça sua parte.

 

 

Prof. Luciano Marcos Curi – Pós-Doutor em História Social – IFTM – Câmpus Uberaba – Contato: lucianocuri@iftm.edu.br

Por ego

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