As guitarras pararam no tempo?
A famosa fabricante de guitarras Gibson, após sucessivas parcerias fracassadas e quedas de vendas, decretou falência em 2018.
A fabricante Fender, concorrente direta, também não sabe o que é ter lucro com guitarras há anos.
Porque a guitarra perdeu presença e popularidade no cenário musical atual?
– Por conta dos dedos delicados dessa nova geração, justificou um dos diretores da Gibson ….
Bem, o real motivo passa bem longe dessa justificativa.
Para entendermos os fatos que explicam o declínio da presença e da popularidade da guitarra no Brasil, voltemos ao passado da música comercial brasileira e suas influências.
A partir do final dos anos 60, os Top Hits, estilos musicais de sucesso no Brasil, eram:
Jovem Guarda, Mpb, Rock, Samba Rock, Pop, Disco Music, Brega e Romântica.
As bandas que tocavam tais estilos, tinham um ou mais guitarristas que solavam e empolgavam os fãs nos shows.
O instrumento guitarra era um item de consumo valorizado e desejado por muitos.
Ter uma guitarra representava modernidade e era um sonho para os amantes da música nacional.
Nos anos 80, o Brasil com carência de escolas de música e com a extinção da obrigatoriedade do ensino musical nas escolas públicas, teve um enorme afastamento de milhões de crianças e adolescentes do aprendizado de música. Neste mesmo período, chegaram ao Brasil os primeiros instrumentos cuja tecnologia digital inovadora, redefiniu um instrumento em particular: o piano, que passou a ter a função de sintetizador.
Um sintetizador simulava ou copiava o som de dezenas de instrumentos, que podiam ser tocados ou servir de acompanhamento, dessa forma ofereceu vantagem econômica e competitiva para os seus compradores, principalmente por baratear e simplificar os trabalhos de produção, composição, gravação e apresentação, criando oportunidades em casas de shows e levando uma sonoridade nova ao coração da preferência popular. Nasciam assim as bandas de um tecladista e um cantor, que simulavam até orquestras nos shows.
O sintetizador passa a ser o instrumento que representa a modernidade musical.
Já no inicio dos anos 2000, com música na internet, Mp3, lojas de musica virtual, softwares e aplicativos de gravação com toneladas de ritmos e vozes pré prontas, qualquer pessoa podia compor e lançar rapidamente suas músicas nas redes sociais em poucos clicks.
A partir de 2008 as oscilações do dólar e do euro, as crises inflacionárias e as altas taxas de importação, tornam proibitiva a compra de instrumentos uma vez que não são itens urgentes de consumo. A irresistível opção de compor e lançar música por tablet ou por aplicativo de celular passa a superar o desejo de comprar um instrumento por ser interativo, moderno, ”da hora’’ … e a custo zero.
E claro, as novas gerações adoraram.
Em meio a consecutivas inovações tecnológicas e eletrônicas, o produto guitarra ficou parado no tempo por quase seis décadas e sem inovações relevantes, de madeira pesada e sem conectividade com o mundo digital.
Seus fabricantes ignoraram as mudanças necessárias para acompanhar a evolução das tecnologias de interação e produção musical e a guitarra tornou-se menos atrativa aos olhos das novas gerações.
A antes e popular guitarra que era a sonoridade da modernidade, hoje é instrumento de nicho de mercado, seus ídolos e o interesse pelo instrumento também .
Mas houve tentativas: em 2007, o lançamento da Guitarra Behringer com saída USB; em 2015, o lançamento da inovadora Guitarra Fusion, a primeira criação integrada a smartphone; e recentemente em 2019, o inovador Violão Lava, instrumento computadorizado.
Mesmo assim, ainda haverá um longo caminho para modernizar a guitarra a ponto de despertar a conexão e o entusiasmo merecidos e elevá-lo novamente
à instrumento de referência e modernidade musical.
Gui Pop é formado em marketing e música, consultor sobre empreendedorismo e música.
@gui.pop