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fachada_casa_do_beco-_morro_do_papagaioMúsica, dança, teatro… As artes em geral têm transformado a vida de muitas pessoas. Mas a trajetória do artista é árdua e a conquista do espaço e o sucesso não chegam de um dia para o outro. O reconhecimento do trabalho passa pelo esforço pessoal e, muitas vezes, pela ajuda e apoio da iniciativa privada e do poder público. Em Minas Gerais, programas do Governo do Estado, como o Música Minas, Circula Minas, Cena Minas, entre outros, ganham papel importante na trajetória de muitos artistas. Há quem iniciou a carreira de forma tardia, mas o tempo não impediu a concretização do sonho. A história de Dona Jandira, 77 anos, é um exemplo de que a idade não encobre o talento nem a vitalidade. A alagoana, que está em Minas Gerais há 26 anos, começou a se apresentar como cantora aos 66. Considerada hoje uma grande revelação da música em Minas Gerais, Dona Jandira tem a carreira pautada na MPB, em especial, na interpretação de canções de compositores como Ataulfo Alves, Lupicínio Rodrigues, Noel Rosa, Vinícius de Moraes, Tom Jobim, Chico Buarque, além dos mineiros Sergio Moreira, Clever Bombu, Murilo Antunes, Xico Amaral e José Dias. Dona Jandira nasceu em Maceió, em 1938, e iniciou seus estudos musicais ainda criança, graças à mãe que era professora de piano e acordeon. Ela conta que, devido aos preconceitos da época, não recebeu incentivo para seguir a carreira musical. No final dos anos 90, Dona Jandira se mudou para o distrito de Itatiaia, em Ouro Branco, onde passou a desenvolver atividades profissionais como musicista e cantora. Em 2008, lançou o primeiro CD, com composições inéditas e gravou um DVD, tendo como convidados Luiz Melodia, Sergio Moreira, Paulinho Pedra Azul e Marcos Lobo. Hoje, Dona Jandira é convidada para participação em shows e festivais. Em maio deste ano, com incentivo financeiro do projeto Música Minas, da Secretaria de Estado da Cultura (SEC), a cantora fez sua primeira apresentação fora do território brasileiro. Ela participou do Festival ExibMúsica, em Évora (Portugal), cantando clássicos das ilhas cabo-verdianas. “Comecei a carreira com mais de 60 anos quando muita gente acha que a vida acabou”, diz Dona Jandira com o entusiasmo e a vivacidade de quem tem muito talento a oferecer ao seu público. E por falar nos apreciadores da música de Dona Jandira, ela conta que, para sua surpresa, a maioria é jovem. “As bandas de rock também me convidam para participar dos seus shows, fazem releitura do meu trabalho e eu canto com eles”, afirma a cantora. A artista se diz feliz com a receptividade do público mineiro. A cultura popular tem o seu legado histórico, afirma a identidade de um povo e revela talentos comprometidos com a sua preservação. A bailarina afro e capoeirista Júnia Bertolino se enquadra nesse contexto. A mineira de 50 anos mora no bairro São João Batista, em Belo Horizonte, e  fundou em 1999 a Companhia Baobá Minas (dança e teatro), formada por sete integrantes. Júnia é diretora e coreógrafa do grupo e desenvolve trabalhos com temáticas que fazem reverência às origens da cultura afro-brasileira. Jornalista e antropóloga, a coreógrafa cria os espetáculos com base em pesquisas. É o caso de “Corporeidades Negras”, que mostra o corpo como instrumento de resistência, misturando teatro, música, poesia e movimentos de capoeira, carimbó, maracatu, samba de roda e congado. Como artista e bailarina, Junia tem no currículo a participação em filmes e no espetáculo Arena Conta Zumbi (direção de João Neves e Titane). Ela também já teve a oportunidade de mostrar seu trabalho na Itália, em países africanos (Senegal, Cabo Verde e Guiné Bissau), na Índia, Inglaterra (Londres) e Alemanha (Berlim). Além disso, a coreógrafa mineira atua como arte educadora em diversos projetos de escolas, centros culturais e universidades. Ela também ministra oficinas em cidades do Brasil e do interior de Minas Gerais sobre a dança afro-brasileira e africana. Programas estaduais de incentivo à cultura também ajudaram a alavancar projetos da carreira de Junia Bertolino. Ela já contou com auxílio financeiro do Música Minas e Circula Minas, da Secretaria de Estado da Cultura. Uma das parcerias com o Governo do Estado é o Prêmio Zumbi de Cultura, realizado sempre em novembro, no dia da Consciência Negra. O projeto foi idealizado por Júnia Bertolino para homenagear pessoas que se destacam em Belo Horizonte nas áreas de teatro, música, literatura e educação. “O apoio do poder público estadual tem sido fundamental para a sobrevivência desse projeto que existe há sete anos”. Sempre engajada, Bertolino anunciou o lançamento, em breve, de um livro que conta a trajetória do Prêmio Zumbi de Cultura. A proposta, segundo Junia Bertolino, é mostrar a resistência do povo negro nos dias atuais. “O livro focaliza pessoas que se orgulham de suas raízes afro-brasileiras e se empenham no dia a dia para vencer desafios impostos pelo preconceito racial, seja por meio da arte, da religião, da articulação política ou social”, conclui. Um exemplo de que a arte pode dar novo rumo à vida das pessoas é o projeto Casa do Beco, no Morro do Papagaio, Aglomerado Santa Lúcia, em Belo Horizonte. Fundada em 1995, a Casa do Beco começou como espaço de ensaio, de oficinas e ponto dos encontros do grupo de teatro organizado pelo dramaturgo, ator e diretor teatral Nil Cesar. A história da Casa do Beco está diretamente ligada à de Nil Cesar, 40 anos, que nasceu no Morro do Papagaio. Com infância conturbada, ele descobriu nas artes uma forma de superar a vida difícil dentro de casa e na comunidade. O dramaturgo conta que o primeiro contato com o teatro foi dentro de uma escola pública. Depois participou de grupos da igreja e se aperfeiçoou em cursos e oficinas gratuitas, principalmente as do Festival de Inverno de Ouro Preto. A partir dessas experiências, Nil Cesar decidiu se tornar um multiplicador do que aprendeu. Ele criou dentro do Morro do Papagaio o Grupo do Beco (depois veio a se chamar Casa do Beco), com oferta de oficinas gratuitas de teatro para a comunidade. Com assessoria de profissionais do grupo Galpão, o projeto cresceu de forma planejada e conseguiu recursos, como das leis estadual e municipal de incentivo à cultura e do Cena Minas, da Copasa. No histórico da Casa do Beco estão espetáculos como o “Bendita a voz entre as mulheres”, resultado de uma pesquisa sobre a vida das mulheres do morro. Além disso, o projeto já contribuiu para a formação artística de várias pessoas da comunidade. Hoje, a Casa do Beco oferece para a comunidade do Aglomerado Santa Lúcia oficinas de teatro, capoeira e dança urbana, além de fazer projeções de filmes nas ruas e becos da localidade, uma vez por mês. Paralelamente, está sendo realizado um curso de formação artística de educadores de escolas e creches, o Multiplicando Multiplicadores, que tem o apoio do Fundo Estadual de Cultura. “Mais do que formar artista, a nossa proposta é formar cidadãos. A gente se sente realizado quando transita nos becos e encontra com um ex- aluno  que diz que aprendeu na Casa do Beco a sonhar e a ter perspectiva de futuro”, afirma Nil Cesar.

Por Editor1

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