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relacao-homem-natureza-parte-4No documentário “Para onde foram as andorinhas” ,  produzido em parceria pelo Instituto Socioambiental e pelo Instituto Catitu, um indígena conta como vem ficando sem referência climática para saber em que momento plantar e colher.  Antigamente, diz ele, sempre que ouvia as cigarras cantarem, podia contar três dias que logo vinham as chuvas. Hoje o clima mudou e isso não acontece mais. Hoje ele precisa criar outras formas de ouvir e sentir a natureza, o que está cada vez mais difícil. Essa relação homem e natureza, que nas grandes cidades ficou tão distante, quase ausente, é um ponto fundamental para que se consiga o engajamento da sociedade com a causa da conservação  ambiental.  É no que acredita o geógrafo Carlos Durigan, há mais de 20 anos vivendo e atuando na Amazônia, que acabou de ser eleito Conselheiro Regional para América do Sul da IUCN (International Union for Conservation of Nature), organização que desde 1948 tem como foco a preservação.  Conversamos  longamente, por telefone, depois que Durigan voltou da Conferência da IUCN que aconteceu em Honolulu, capital do Hawai, de 1 a 10 de setembro.  O tema do encontro desse ano foi  “O planeta na encruzilhada”, mas o geógrafo adota um tom otimista quando acredita que a sociedade, os governos e as empresas vão, finalmente, apontar para a direção certa e adotar um outro modelo de produção para diminuir os impactos que já estão afetando os mais pobres do mundo.  Segue a entrevista: Desde 1948, portanto na esteira da organização dos países no pós-guerra, a IUCN está batalhando pela conservação da natureza. Mas a batalha continua e os resultados não têm sido animadores… Carlos Durigan – Naquela época não se tinha o engajamento que nós temos atualmente, mas era um tema em ascensão, já havia grupos de cientistas impressionados com a tendência de extinção das espécies.  Tanto que a grande contribuição da IUCN é a lista vermelha de espécies  que nos mostra a cada ano o status da biodiversidade no mundo. Começamos a ter maior engajamento a partir dos anos 60, tivemos a publicação do livro  “Primavera Silenciosa” (Ed. Gaia), de Rachel Carson vários trabalhos de sensibilização que são chave no processo de engajamento principalmente da sociedade, que começou a mostrar preocupação com esse processo do pós-guerra, de aumento da produtividade, industrialização e agronegócio crescendo. Até então, os impactos que a humanidade sentia eram mais evidentes com relação às guerras, era necessário reconstruir  os países afetados. Para a América do Sul, a África, ações concretas começaram a surgir nos anos 70 muito timidamente. Tudo isso como tentativa de resposta à necessidade de se desenvolver ações voltadas a sustentabilizar, digamos assim, o desenvolvimento. Fiquei  contente quando li no documento “Navigating Island Earth” que foi redigido após a Conferência em Honolulu, uma preocupação forte com o socioambiental. É preciso um olhar cuidadoso também para os mais pobres que já estão sofrendo os impactos do aquecimento. A IUCN tem essa visão no contexto geral? Carlos Durigan – Sim, e ela evoluiu bastante nas últimas décadas a ponto de nós termos, dentro das comissões que executam as ações da rede, a Comis2d2139db-a6e1-40a5-87b2-65717664cf90_durigansão Social e Econômica, de políticas relacionadas à interação gente ou sociedade e natureza. Essa é uma das grandes preocupações, uma das plataformas que temos defendido, que a IUCN tenha essa consciência porque ela é formada por 1.300 membros do mundo inteiro, até órgãos do governo fazem parte. É uma esfera importante para  gerar influência positiva. O tema da conferência deste ano foi “O planeta na encruzilhada”,  e uma das coisas que eu falei lá foi que, apesar de estarmos numa encruzilhada,  temos hoje em mãos bons elementos para escolhermos  o melhor caminho a seguir.  Precisamos convencer a sociedade, o grande capital e governos de que é preciso mudar nossa forma de agir no mundo. Essa é a parte mais difícil, não? Existe uma distância muito grande entre intenção e gesto, um contrassenso que põe, de um lado, os líderes assinando acordos que se comprometem com um outro tipo de produção e, de outro, a mesma “ordem unida” em prol de um desenvolvimento sem limites. Fale um pouco sobre isso, por favor.
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Por Editor1

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