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Por: Maurício de Castro Rosa

Foram quatro dias intensos, mais de quatrocentas decolagens, centenas de horas voadas em um evento que há mais de vinte anos trás muita beleza, emoção aos que praticam e assistem estas asas voadoras que enfeitam os céus de Araxá. O inicio da competição foi dia 7 de setembro, o dia 10 foi o quarto e último dia de prova, céu totalmente azul, o sol realçando as belezas naturais da Serra da Bocaina onde a 23 km de Araxá esta a Rampa Horizonte Perdido, uma das mais belas e estruturada rampa do país, que oferece acesso fácil, estrutura de bar, restaurante e um grande potencial de vôo livre na região. Um dia naturalmente muito bom para pratica do vôo livre como aconteceu nos dias anteriores; tudo indicava que esta última prova seria perfeita para revelar os vencedores desta tradicional competição que estava muito acirrada até o momento. Infelizmente já no final da competição, um acidente fatal veio a tirar a vida do experiente piloto de parapente Antônio Augusto dos Santos, de 40 anos de idade, que era casado mas não tinha filhos, residente no interior de São Paulo. A prova definida para este último dia de competição pela comissão de prova consistia em decolar da rampa Horizonte Perdido, fazer o primeiro ponto de controle sobre a cachoeira da Argenita, o segundo PC seria na Argenita, o terceiro próximo a Boca da Mata e o gol final seria no pouso oficial da rampa, o objetivo principal para esta formatação de prova é que traria uma visibilidade muito grande para o publico presente acompanhar a prova, as condições do dia estava favorável a isto, perfazendo aproximadamente um total de prova de 50km.  Neste formato, com uma janela (tempo disponível para decolagem dos pilotos) que se estendia até as 15h da tarde o piloto não precisaria necessariamente estar largando junto com os primeiros, pois a prova não consistia em ser o vencedor quem chegasse ao gol em primeiro lugar mas, sim quem fizesse no menor tempo, sendo que o tempo só começava a ser contado, quando o piloto fizesse o Start de larga. Dado a largada, já de inicio as condições já se mostravam favoráveis, com o sol quente, as ascendentes térmicas se apresentavam fartas e o volume de pilotos estampados no céu já eram em grande número. Cada piloto escolhe sua melhor estratégia e por volta das 13:30 praticamente todos os pilotos da competição já haviam decolado, neste momento os dois últimos pilotos presente na rampa, também optaram por partir para a prova, dentre eles o  piloto Antônio Augusto que partiu para realizar sua prova, infelizmente quando ainda buscava ganhar altura para realizar seu start, sobrevoando uma área considerada no linguajar dos pilotos rotorizada (o vento recebe influência do relevo próximo) criando uma área de muita turbulência, diante desta situação, pode ter havido um provável colapso (desinflada em uma das partes da vela) passível de acontecer principalmente em vôos turbulentos mas, diante da baixa altura e proximidades do relevo, os comandos proferidos pelo piloto para estabilização da vela não foram suficientes em tempo para evitar a queda e o choque com a montanha, provocando o acidente. Nestes casos de colapsos em vôos de parapente quando se esta em uma altura maior, o piloto em sua maioria das vezes, consegue restabelecer o vôo normal e se não ocorrer, ele tem ainda a opção de arremessar um paraquedas de reserva mas, devida a baixa altura e proximidades da montanha isto não foi possível para evitar a queda deste piloto e o choque contra a montanha. A equipe de segurança agiu rápido, utilizando toda estrutura disponível com a equipe de socorristas,  uma Ambulância, Helicóptero e mais duas viaturas do Corpo de Bombeiros mas, infelizmente devido a gravidade dos ferimentos o piloto não resistiu e veio a falecer no local. Uma fatalidade muito triste deixando em choque  seus familiares e também toda família do vôo livre. Naturalmente uma tragédia desta natureza nos faz repensar os riscos que nos expomos a todo momento, principalmente quando se trata de esportes que são considerados radicais, quanto ao nível de riscos e segurança de seus praticantes. No meu entender,  como praticante de esportes de aventura, por treze anos participei da maioria destes 21 anos de open que foram realizados em Araxá como piloto e também como membro da organização; lamento muito este ocorrido, estou muito triste e chocado, o primeiro acidente fatal da rampa de Araxá, por mais que estejamos cientes de que isto poderia ocorrer, nos enche de muita tristeza e lamento, mesmo sabendo que as proporções estão muito abaixo de acidentes ocorridos em diversos outras modalidades ou praticas de esportes radicais. Acredito que nós humanos não estamos preparados para perdas e enfrentamento da morte quando ela se apresenta  tão precoce e próxima da gente. Isso mexe com nosso interior,  querendo buscar entender um propósito da perda de um amigo voador, ainda no auge de sua vida, é dificil no entendimento para nós humanos. Eu me apego no consolo de que o Antônio Agusto, hoje já desfruta de um propósito que não nos cabe entender, mas sim dentro de um propósito que Deus reservou exclusivamente para ele, com a certeza de que com fé em Jesus Cristo estará desfrutando de uma vida eterna, com emoções muito melhores da que desfrutamos aqui na terra. Que possamos nos fortalecer na sua perda precoce, acreditando nos propósitos de que a vida necessita ser vivida com intensidade, com paz, alegria, muito amor, gentilezas e amizades. Que uma perda desta natureza com tamanha tristeza e muita lamentação sirva para sermos gratos a Deus nestas três décadas de Clube Araxaense de Voo Livre, e vinte uma edições de opens, por mais diferenças que existam, se formou nestes períodos, muitas amizades, foram muitas emoções, muita adrenalina, momentos inesquecíveis, muita proteção Divina em condições as vezes extremas de nossos conhecimentos e limites;  que possamos aceitar os propósitos de Deus que não nos cabe entender; continuar pedindo e acreditando nestas bênçãos para que possamos desfrutar do gosto de viver intensamente estes esportes de aventura. e que neste momento Deus conforte a família do Antônio Augusto que deixará muitas saudades.

A perda de um amigo piloto praticando o esporte é irreparável, nos faz repensar, nos amedronta, nos preocupa mas, nos faz crescer, como pessoa, como atleta, nos faz valorizar os bons momentos, e que Deus possa nos dar sabedoria, discernimento e proteção para buscarmos  novos horizontes, novos sonhos e novos vôos, seja eles radicais ou não. Não tive uma convivência muito próxima ao Antônio Augusto mas com certeza ele como amante da vida, da liberdade, da natureza e do vôo livre, neste momento não gostaria que sua perda se transformasse e um tormento, em momentos de duvidas e indagações, acredito que ele desejaria que o vôo, a liberdade e emoção de voar fosse cada vez mais contagiante, como foi durante toda realização do 21º Open em Araxá

 

 

Por Editor1

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