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Por: Maurício de Castro Rosa

Carinhosamente chamado Velho Chico por aqueles que, de alguma forma, o admiram, o Rio São Francisco vem sofrendo, ao longo dos anos, uma degradação de seus recursos naturais decorrente da ação do homem, que usufrui de suas riquezas naturais sem sequer lhe oferecer um meio de subsistência. Em seu curso natural,  são seis usinas hidrelétricas que sugam suas energias 24 horas por dia. As matas ciliares, que, por lei, deveriam ser protegidas em seu entorno, praticamente não existem mais. O que se vê é poluição por agrotóxicos, resíduos industriais e esgotos domésticos sem tratamento despejados nos rios,  a destruição das nascentes de seus tributários, seja pelo desmatamento ou pelo pisoteio do gado, entre tantas outras causas de degradação. A cada ano, um descaso sem limites quanto a sua preservação, o que vem anunciando uma tragédia, em que é visível a redução de seu volume d’água,  em todo o seu curso.
A degradação vai da sua nascente e percorre seus 2.814 km até a sua foz, na divisa dos Estados de Sergipe com Alagoas.

Após a devastação ocorrida pelos vários focos de queimadas, que consumiu, nos últimos três meses, mais de 80% da reserva ecológica do Parque da Serra da Canastra, onde fica a nascente do Rio São Francisco e alguns de seus importantes afluentes, o cenário, hoje, para quem visita o parque é lastimável, digno de espanto e indignação. As imagens impressionam. Onde as cinzas se misturam com carvão e pedra, a fauna e a flora desapareceram completamente. Lamentavelmente nem mesmo as mais de 70 pessoas entre bombeiros, brigadistas, funcionários e até voluntários que trabalharam no combate aos incêndios no parque não conseguiram sequer proteger a mata ciliar simbólica da Nascente do Rio São Francisco. O pior é que ela se encontra em uma área descampada, de fácil acesso, e sua extensão é menor  do que uma quadra de futebol de salão. Logo após a mata ser totalmente consumida pelo fogo, a nascente, que até então nunca tinha deixado de  minar água, secou em protesto ao descaso. O problema de queimadas em parques nacionais em todo o Brasil se repete todos os anos, e o que é pior, sempre na mesma época e cada vez com maior poder de destruição. É inconcebível que a maior fonte de riqueza e vida de um país esteja sendo destruída pela ação e incompetência do homem, mais estúpido ainda é acreditar nos bilhões de investimentos que já foram gastos e outros bilhões que serão no projeto para transposição deste próprio Rio São Francisco, que, ironicamente, corre sérios riscos de não ter água para ser transportada, nem mesmo para inauguração de sua obra de transposição, uma verdadeira aberração humana. Se os recursos gastos nas obras já realizadas, 8,2 bilhões de reais, sendo que o orçamento inicial era de 4 bilhoes, fossem utilizados para a preservação dos parques nacionais, certamente, com projetos inteligentes, com verbas bem direcionadas, jamais teríamos parques sendo destruídos pelo fogo e suas águas secando.  Há 10 anos, o bispo baiano Dom Frei Luiz Cappo, por duas vezes, fez greve de fome,  para protestar contra o projeto que, para ele e para muitos especialistas em meio ambiente, não é a melhor saída para solucionar um dos problemas mais antigos do País. Foram dias agitados em 2005, quando o governo do presidente Lula anunciou, pela primeira vez, a transposição do Rio São Francisco como solução para a seca no nordeste, e, quando as obras se iniciaram, dois anos depois, ficando ele 22 dias sem comer, na cidade de  Sobradinho, na Bahia, às margens da represa,  e saindo de lá para um hospital, por determinação de seus amigos e seguidores.

O lamentável não é só o ocorrido, mas a forma como vem ocorrendo. Um verdadeiro descaso, somado a incompetência e má gestão dos órgãos responsáveis para evitar essas tragédias. Há muitos anos, já se fala sobre uma possível morte do Rio São Francisco. Agora é ele quem está reclamando. Três dias após deixar de minar água, a nascente voltou a fluir, mesmo sem qualquer chegada de chuva, mostrando que a natureza ainda insiste em sobreviver, mas que o homem tem que se conscientizar da necessidade de sua preservação plena e não apenas da redução de desmatamento ou de medidas fúteis de preservação.

O Brasil tem 12% das reservas de água doce do planeta, o que lhe garante uma situação privilegiada no cenário mundial.

A falta de atitudes sérias, o crescimento desordenado das cidades,  a ocupação de áreas de preservação, a exploração exagerada, a despreocupação com os mananciais, a má distribuição, a poluição, o desmatamento e o desperdício e vários outros fatores comprovam o descaso com este recurso, que são verdadeiros crimes ambientais. O Brasil corre o  risco de estes  crimes ambientais  se tornarem, no futuro, motivo de justificativa para que países de olho em nossas riquezas possam justificar uma guerra contra o Brasil em nome de defender os recursos naturais que passarão a ser recursos mundiais. Ou vocês acham que se faltarem recursos naturais no mundo, que, aliás, já estão faltando, que afetem os países desenvolvidos, eles ficarão assistindo ao Brasil queimar seus recursos?

Entre os rios 100% brasileiros – que nascem e deságuam dentro das fronteiras do País -, o maior é o São Francisco. A sua bacia hidrográfica ocupa 7,5% do País. Está presente em 521 municípios, quase 10% do total nacional. Se o São Francisco não esta suportando a estiagem e a degradação humana imagine os menores e seus afluentes.

Sua nascente está localizada na Serra da Canastra, no município de São Roque de Minas. O rio também atravessa o Estado da Bahia, fazendo sua divisa ao norte, com Pernambuco, bem como constituindo a divisa natural dos Estados de Sergipe e Alagoas, e, por fim, deságua no Oceano Atlântico, drenando uma área de aproximadamente 641.000 km². Seu comprimento medido a partir da nascente histórica é de 2.814 km, mas chega a 2.863 km quando medido ao longo do trecho geográfico.

A preocupação com a água alcança níveis mundiais, até porque já é considerada um dos recursos naturais que vem sofrendo escassez provocada pelas mudanças climáticas. Dados divulgados na Conferência Mundial sobre Água realizada em agosto de 2007, em Estocolmo, revelam que, em 2025, a falta de água atingirá 1,8 bilhão de pessoas no mundo e que dois terços da população também serão afetados pela escassez do recurso.

A área de vazão na parte alta da Cachoeira da Casca D’anta é desproporcional com o filete de água que corre sobre as pedras.

A área de vazão na parte alta da Cachoeira da Casca D’anta é desproporcional com o filete de água que corre sobre as pedras.

Cachoeira da Casca D’anta com volume de água nunca visto antes.

Dos pequenos riachos muitos secaram e outros praticamente um filete de água insiste em correr.

Mesmo com volume reduzido, a cacheira da Casca D’anta, primeira queda do Rio São Francisco dentro do Parque da Serra da Canastra, continua oferecendo beleza e água fresca para seus visitantes.

O leito do rio logo após a queda da cacheira da Casca Danta, parece um rio de pedras com o volume reduzido de água por causa da seca.

O que sobrou da mata nativa da nascente do Rio São Francisco.

O rio afluente do Rio São Francisco que corta a cidade mineira de São Roque praticamente virou um riacho com volume muito reduzido de água.

Pouco que existe de mata ciliar dentro do município de Vargem Bonita, primeira  cidade banhada pelo Rio São Francisco, foi  totalmente queimada pelo fogo.

Pouco que existe de mata ciliar dentro do município de Vargem Bonita, primeira  cidade banhada pelo Rio São Francisco, foi  totalmente queimada pelo fogo.

Por Editor1

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