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É deserto. Um horizonte árido e solitário, inesperadamente belo, onde o silêncio vibra nas rajadas de vento, o sol impera no céu azul que nos protege, o tempo se perde na imensidão de areia. Ali o corpo se rende às altas temperaturas, enquanto a alma se rende à alta melancolia. Deserto é um momento, uma filosofia, um calor. Um lugar onde a gente se perde para se en

Essa é a impressão inesquecível sobre sentar nas areias do deserto de Wadi Rum para contemplar a paisagem, pensar na vida, respirar ar puro, transpirar bons fluidos, viver. Deserto é um presente, o melhor momento para realmente mergulhar no universo jordaniano – e, nessa imersão, garimpar relíquias religiosas, histórias antigas e aventuras arábicas.

Wadi Rum simboliza bem a cultura jordaniana: os beduínos espirituosos galopando lentamente nos seus dromedários, os muçulmanos ajoelhados rezando em direção a Meca, os viajantes aventureiros chacoalhando na caçamba de carros 4×4 que cruzam trilhas invisíveis nas areias. Ao caminhar ali, olhos quase cerrados para desviar do pó, escalando rochas e dunas para encontrar bons horizontes para admirar o pôr do sol, uma paz paradoxal nos invade: por um lado, nossa pequenez mundana, tão angustiada com a pós-modernidade; por outro, nossa egotrip singela, como se estivéssemos protagonizando um filme cult nesse cenário incrível.

Não por acaso, a Jordânia já foi set para muitas produções cinematográficas, como os clássicos Indiana Jones e a Última Cruzada (1989) e Lawrence da Arábia (1962), além dos recentes Cruzada (2005), de Ridley Scott, e A Hora Mais Escura (2012), de Kathryn Bigelow.

Enquanto caminhava pelas ruínas de Jerash, uma novela do Kuwait era filmada perto do Arco de Adriano, o imperador andarilho, de 129 a.C. Ficções brasileiras também rolaram nas trilhas de Petra, como a novela Viver a Vida, de Manoel Carlos.

Além das fronteiras imaginárias de Wadi Rum, perambular por cidades esquecidas no tempo e estradas quase engolidas pela areia também dá impressão que estamos rodando um filme repleto de histórias e contrastes em cenários incríveis: uma viagem de autodescoberta a um destino longínquo e talvez exótico, em tudo diferente da cultura latino-americana; um país encruzilhado numa zona de conflitos, mas perfeito para momentos de paz; um povo com identidade própria, mas aberto para abraçar a cultura de refugiados e de viajantes.

Ao anoitecer no Wadi Rum, sob um céu generosamente pontilhado por estrelas, outros paradoxos: ouvir música tradicional no Captain Camp, um acampamento cinco-estrelas com beduínos entretidos com smartphones; comer kafta, pão sírio quentinho e babaganoush com as mãos, com refrigerantes do selo Coca Cola Company; dormir em tendas de lã de cabra preta, mas munidas de lamparinas elétricas e tomadas universais. O pernoite custa 40 dinares (R$ 91; com jantar e café da manhã).

Entre contradições, a Jordânia floresce como uma vitrine para o Oriente Médio. Um país monocromático, onde o tom areia se espalha nas construções nas cidades e nos descaminhos do deserto Mas ao mesmo tempo um país colorido, onde a cultura predominantemente muçulmana tira o véu e se abre para nos receber. Um deserto onde as lembranças se cristalizam como um filme. Um árido movie. (AE)

A bordo de um 4X4 é possível atravessar a Jordânia em 6h

No coração do Oriente Médio, a Jordânia é um país pequeno – a área total não ultrapassa 90 quilômetros quadrados. Ao norte, faz fronteira com a Síria (40 quilômetros a partir de Jerash). A leste, com o Iraque. Ao sul, com a Arábia Saudita (50 quilômetros desde a estrada para Wadi Rum). A oeste, as linhas limítrofes são ainda mais frágeis: o Mar Vermelho, no Golfo de Ácaba, é a fronteira natural com Israel, Egito e Arábia Saudita. Ali, a correnteza azul do Mar Vermelho desemboca no Rio Jordão, outra fronteira natural com Israel.

Ao olhar de viajantes mais aventureiros, o país-encruzilhada é tentador: dá vontade de alugar um jipe e cruzar o Oriente Médio todo. Não seria fácil, considerando o intrincado xadrez geopolítico (além do impasse árabe-israelense, países como Egito e Síria vivem dias, digamos, atribulados atualmente).

Já cruzar a Jordânia seria mais tranquilo: um 4X4 alugado a 150 dinares por dia (R$ 342) com GPS é o suficiente para atravessar o país de norte a sul em 6 horas. Se quiser companhia, há 14 guias que falam português – como Luay Saleh (luayfrench@yahoo com). (AE)

O que levar

SOL A PINO – O kit básico para enfrentar o sol poderoso: filtro solar e óculos escuros;

NA CABEÇA – Para mulheres, o chapéu, outro item recomendado, pode ser facilmente substituído por charmosos lenços encontrados nos mercados de rua do país. E você ainda entra no clima;

CONTRA A SEDE – Aproveite para comprar garrafinhas de água em mercados – no hotel pode custar até dez vezes mais;

O QUE TRAZER

COLORIR O VISUAL – Pashminas e bijuterias são aquisições interessantes para dar de presente;

AGUÇAR O PALADAR – Temperos e especiarias (como baharat e za’atar), ervas para chás e café (turco, com cardamomo), além de narguilés. Reserve as compras para o mercado de Ácaba;

BRILHAR MUITO – Peças de ouro e prata, entre joias, utensílios e artigos de decoração, têm preços competitivos no Mercado do Ouro de Amã;

Saiba mais

Como ir: SP-Amã-SP, desde R$ 2.711 na Emirates (emirates.com); R$ 3.003 na Turkish (turkishairlines com); R$ 3.603 na Air France (www.airfrance.com.br); R$ 3.916 na Qatar (qatarairways.com);

VIAGEM A CONVITE DE JORDAN TOURISM BOARD

Moeda: dinar jordaniano (1 dinar vale R$ 3,05);

Idioma: árabe;

Visto: não é exigido de brasileiros, que devem pagar 20 dinares (R$ 65) na imigração;

Por Editor1

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