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“Carta para Maria”

On! Maria? De vez em quando parece… Que sumi do mundo, né? Mas não. Ainda estou aqui… Quebrei o fêmur no dia 10 de junho de 2021 e… até hoje 29-03-2022 estou de “ castigo” usando um invento antigo , a bengala! Para equilibrar e segurar a cabeça: estou revendo à vida de metida a escritora… Pensar, lembrar  faz bem, uma fuga das seqüelas deixadas pelo dia a dia dos mandões, a Bala Certeira não errará o alvo! Veja esse texto. “Um grito bobo – oh!..”

 

Um grito bobo – oh!…

Era um bando de garoto, 28, o moço da lanchonete havia contado. Entre 12 e 15 anos e idade, talvez menos.

Um menino de rua me chamou atenção, seguia sem infância, cavoucando o asfalto com uma vareta, o outro, claro, bonito. Gordinho, cabelos cortados, vestindo apenas um calção, limpo, vermelho.

Riso puro coloria seu rosto.

Imaginei: dever ser novo no bando, olhei todos. Num relance, a mãe tomou conta de mim, tive vontade de conversar com eles, minha cabeça voava!

“Era sabonete, toalha, Monteiro Lobato, café com leite, Makensie, calça passada, sopa de legumes, aviadores, semana da asa, baterista” levanta menino ta na hora da Escola “onde você mora, seu sonho, jardineiro, pintor, engenheiro do campo, a lua é sua mil vidas eu queria explicar.

Tudo seria… e não seria o futuro!

Ás 10 hora da manhã, na Rua Fernandes Tourinho em Belo Horizonte eu fui assaltada!

O menino chutou minha perna, freiando uma corrida. O gordinho veio chegando puxou a corrente de prata do meu pescoço. Os olhos do bando me olhavam, torcendo pela minha derrota.

Não cai! Não fui nada, naquele momento além de um grito bobo.

Oh…

Tive medo. Parei. Meu pensamento era só medo! Medo medonho.

Os carros continuavam passando era prudente, não socorrer uma pessoa que estava sendo assaltada, eles sabiam. Eu não! Fiquei sozinha. Não, sei que Deus me acudiu. IAÚE!?

O bando foi se afastando, calmo frustrado… Na bolsa havia 10 reais sem documentos… Foi jogada adiante.

Consegui chegar até uma lanchonete, tomei um copo de leite com açúcar ouvi de um rapaz:

“Eles não são como seus filhos! São todos fascínora” Criminosos armados, a senhora não viu! Fuja deles sempre.”

A figura de Carryl Chessman “O Bandido da Luz Vermelha” executado na Câmara de faz em 1960 nos Estados Unidos saiu de minhas lembranças, parou diante de mim!

“Fui criança sem lar, odiei toda a ordem do mundo, até que comecei na prisão, a estudar a compreender a vida”

Chessman ficou 18 anos no “Corredor da morte” Estudou, freqüentou uma faculdade, escreveu vários livros, questionou profundamente o sistema penitenciário universal. Muitas reformas foram implantadas a partir de seu sofrimento, de sua vivencia, de suas idéias.

Não perdoei o Pres. Eisenhower por tê-lo mandando á Câmara de gás, por pressão política naquele 02-05-1960 pela manhã.

O telefone vermelho, linha direta de Iam Quentin com o Presidente dos Estados Unidos, não tocou!

O acontecimento sensibilizou o mundo! Punir ou educar? Chessman, na prisão se tornou Advogado, um cidadão, merecia viver. Entre as muitas cartas que recebeu uma era minha, entre todas que chegaram de todos os lugares do mundo aquela Nação Democrata.

Passei muito tempo agoniada!

Vendo Chessman entrar na Câmara de gás, vendo-o morrer uma morte tecnicamente perfeita, paradoxalmente injusta.

A pena de morte, a cadeia, a penitenciaria, são sistemas de brutalizações aprovados pela sociedade que usava brutalizações ainda maiores.

Antipatizei com a América, com os americanos. Hoje na maturidade, isso já passou.

Sou uma “cidadã do mundo” parafraseando J. L. Borges, escritor argentino.

Ao aprender a pensar que uma vida individual, é uma vida individual, tem como pátria a distancia das estrelas, a poeira do chão, o brilho da tecnologia, o aperto das mãos. O genocida de uma guerra estruturada por cérebros excepcionais é tão imoral quanto os rimes psicóticos.

-Pego o jornal “Araxá terá uma cadeia para menores infratores”

Vem susto, cresce dentro de minha cabeça; Explode! Atinge os meios de comunicação, é por eles que deve começar o conceito da riqueza, dos bens da vida, do dever, da competência, da mãe, da mulher universal!  É 1 caminho, outros 99 estão escondidos.

 

Arejar as pessoas…

Lavar as palavras…

Trocas as manchetes…

A noticia é líquida…

Escorrega… Tira o poder dos criminosos da noticia.

Tudo não passará de uma montanha de leis.

Não protegem, aprisionam as pessoas do mundo chamado livre

A vida murmura

Nos olhos do pequenino

Que a vida não desfigurou!

 

Para eles um espaço multiuso no Estádio Fausto Alvim. Eu vi o Estádio sair da terra doada pelos Salesianos aos desportistas fulgorosos da época.

Eu vi os corsários… Representantes do império Russo, desfilando em seus cavalos imponentes, numa exibição inesquecível: cavaleiros e cavalos em tropelias coordenada executaram o que comparo, hoje, ao aplaudido show da Esquadrilharia da Fumaça

Araxá estava presente pisando a terra fofa do Estádio Fausto Alvim, a praça de eventos.

Houve uma premiação á jovem mais simpática Inah recebeu das mãos de um grupo  um anel e troca atou-lhe um lenço vermelho ao pescoço. Foi lindo! A banda tocou o Hino Nacional, a festa terminou. Eu vi Presidente Vargas, Governador Benedito Valadares, Prefeito Álvaro Cardoso e seus familiares numa comemoração com muitos sorrisos ocupavam os dois caramanchões floridos que encaixavam o topo das arquibancadas.

O Estádio Fausto Alvim foi palco de inéditas festividades guardadas na lembrança da gente de Araxá

A historia é contada pelo povo que nasceram e vivem aqui ! “A gente não pode preservar, sem conhecer”. As certidões do passado pertencem ,como povo.

Olha Maria, sempre me lembro das Aulas de português! Como a gente aprendia com as freiras para a vida inteira… Até hoje me lembro da Irmã Maria dos Querubins, Professora de física contando e contando, o que era o átomo, sua força de distruição na bomba atômica, fazendo virar pó Hiroshima e Nagasaki, não sabe se é assim que se escreve, mas a gente sentiu até o cheiro da cinza no ar!… E hoje como está o ensino? Com tanta tecnologia a palavra Doutor deve esta em desuso, todo mundo sabe tudo e …pronto!

Cecilia Beatriz P. P. Rosa

A.A Letras

Por Editor1

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