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Brasil: sem professores, sem Nação

 

No livro clássico do filósofo educacional espanhol Fernando Savater intitulado “O Valor do Educar” ele descreve e informa com precisão que um dos objetivos da Educação é preparar as novas gerações para a vida social. Então, para que a sociedade se renove e sua existência se perpetue é preciso que as novas gerações sejam educadas, dito de outro modo, que sejam inseridas na cultura existente e possam gradualmente assumir o controle, a condução e a administração da sociedade.

Os seres humanos não nascem prontos para a vida social, diferentemente do que ocorre com as demais espécies do planeta, pois, desde a pré-história, a constituição das sociedades tornou-se uma característica central da nossa existência e condição fundamental para a sobrevivência de nossa espécie.

Portanto, sem a transmissão da cultura para as novas gerações haverá colapso social, daí a importância da Educação, tanto a familiar, quanto a escolar. Ademais, a cultura não precisa ser apenas transmitida tal como é atualmente, sem alterações, pois, adaptações e reformulações são necessárias à medida que novos desafios surgem no decorrer da história.

E educar não é uma tarefa simples. Um ser humano para estar pronto para a vida em sociedade precisa de anos de preparação até assumir o controle e a administração de sua própria vida e poder contribuir com responsabilidades sociais.

Ao longo da história à medida que a vida social se tornou mais complexa, cada vez mais inúmeros conteúdos precisaram ser aprendidos. A formação para a vida teve sua lista de aprendizagens ampliada qualitativamente e quantitativamente. Isso reforçou e ampliou a importância da Educação e daqueles que a realizam cotidianamente.

Assim, a necessidade de escolarização como complemento da Educação familiar e depois como item fundamental para a formação das novas gerações aumentou de forma significativa ao longo da história em todo o planeta. Na época do mundo antigo do Egito, Mesopotâmia, Grécia, por exemplo, apenas uma pequena elite era escolarizada. Hoje ocorre o contrário e a ampla maioria da população frequenta as escolas. E diferente do que alguns argumentam, a educação escolar hoje é básica, uma necessidade vital para a vida em sociedade e não um luxo que irá produzir uma diferenciação social e econômica.

Hoje o que produz essa diferenciação é a qualidade da escolaridade. E aqui chegamos à questão dos professores e da formação daqueles que irão formar novas gerações.

No Brasil nossa história revela que nunca fomos muito cuidadosos com o tema e no geral a formação de professores não conta com grande envolvimento social. A sociedade brasileira tende a valorizar mais outras questões e isto se reflete nas prioridades governamentais e nas preferências das pessoas, das famílias e da sociedade de modo geral. Como resultado nosso sistema escolar caminha com dificuldades e encontra poucos aliados que compreendem a importância estratégica da Educação escolar e familiar. Muitos nem mesmo percebem a importância e complementariedade entre Educação Familiar e Educação Escolar, ou seja, entre socialização primária e secundária.

O resultado é há muito tempo sabido. O Brasil que tem tantas potencialidades não consegue ocupar um lugar de destaque no mundo e, apesar de toda riqueza, oscila entre períodos de estagnação e outros de desenvolvimento social e econômico medíocre.

Na década de 1940 o austríaco Stefan Zweig publicou um livro intitulado “Brasil, país do futuro” que se tornou famoso apesar das inúmeras críticas recebidas. Nele demostrava e descrevia as potencialidades brasileiras e apostava que a grandeza seria alcançada. O tema não era novo. Contudo, a história tem demonstrado que nossas prioridades equivocadas, tem sido as responsáveis pelos nossos fracassos.

Um país que não valoriza a Educação de qualidade para todos, e apenas para uma elite, realmente deseja ser desenvolvido socialmente e economicamente? Penso que não. Diferente do que Stefan Zweig acreditava, a existência de potencialidades e de vastas riquezas naturais não garantem um futuro promissor. Gente pobre em terra rica.

E assim assistimos diversos países deslancharem como, por exemplo, os Tigres Asiáticos, os Ursos Europeus e até os Cangurus Australianos. E, seguimos estagnados devido aos problemas internos, imitações esdrúxulas do estrangeiro, modismos infernais e falta de enfrentamento real de nossos principais problemas.

Um dos principais problemas brasileiros é a Educação, e neste quesito a formação de professores. É uma ilusão e uma mentira perigosa acreditar que haverá um Brasil rico e próspero com uma população culturalmente defasada e parcamente escolarizada. A maior riqueza de um país reside na sua população e esta precisa ser educada e saudável. A história dos países desenvolvidos evidencia isso com clareza.

França, Inglaterra, Japão, Israel e Alemanha, por exemplo, são países que teoricamente dispõem de menos potencialidades que o Brasil, contudo, são mais desenvolvidos devido as prioridades que assumiram ao longo da história. E alguns deles envolveram-se em erros bem conhecidos, com a Alemanha na primeira e segunda guerra mundial, mas, conseguiram reerguer-se, entre outros fatores, pela valorização da Educação.

O Brasil precisa rever suas prioridades. Uma delas diz respeito a Educação e a formação de professores. Sem profissionais com alta formação atuando no magistério, o país não irá deslanchar. Atualmente faltam professores tanto quantitativamente, quanto qualitativamente. E não é culpa dos professores. Muitos lutam em prol da ampliação da sua formação. Contudo, as oportunidades não existem em todo o país e muitos não dispõem de condições de carreira e remuneração para ampliar sua formação. Em algumas situações são necessários sacrifícios heroicos por parte dos professores.

Os professores e professoras são os profissionais estratégicos que irão formar as novas gerações complementando a Educação familiar e inserindo os jovens no Mundo do Trabalho e no Mundo da Ciência. Se não estiverem preparados para isso, essa tarefa ficará falha e novamente o Brasil irá patinar, pois não possuirá profissionais devidamente preparados para que nossas potencialidades sejam desenvolvidas. Seremos eternamente o país do futuro que nunca chega e jamais uma potência no tempo presente. É isso que queremos?

No Brasil temos uma elite que tende a arrogância e preocupa-se exclusivamente com a solução individual de seus problemas. Tal elite não compreende que o atraso do país é o de todos e não apenas dos mais pobres.  Quanto a população pobre essa se defende como pode, as vezes de maneira dissimulada. Fruto dessa situação uma prática de corrupção se instalou na cultura brasileira.  Falta um nacionalismo saudável, lúcido e crítico de ambas as partes.

Portanto, se não houver uma valorização real, e não demagógica, da Educação e não favorecermos a formação de elevados quadros para a Educação escolar continuaremos eternamente estagnados sonhando com grandeza e correndo atrás de outras nações desenvolvidas.

É preciso uma carreira do magistério que seja exigente e justa e com condições para que os professores busquem uma formação elevada para atuarem cotidianamente no “chão das escolas”. Sem isso não há desenvolvimento econômico e social e a comprovação disto é o Brasil, um país, onde o futuro ainda não chegou.

Sem professores de elevada qualificação não seremos um Nação realmente desenvolvida. Nosso descuido com um setor tão estratégico é um dos responsáveis pela estagnação. Um gargalo que o Brasil precisa superar.

 

 

 

Prof. Luciano Marcos Curi – Pós-Doutor em História Social – IFTM – Câmpus Uberaba – Contato: lucianocuri@iftm.edu.br

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