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Parte 02

Em dezembro de 1958, cheguei ao Rio.

Procurei Dr. Arnon no seu escritório na Rua México, 168, onde me recebeu com grande simpatia. Perguntou onde eu estava hospedado e informei que estava numa pensão perto da Central do Brasil. Ele ficou espantado pois o local era horrível – e perigoso. Mas, anotou e mandou Leopoldo Collor me apanhar na manhã de sexta-feira.  Leopoldo veio num Cadillac Rabo de Peixe, o máximo naquele momento. E subimos para o sítio deles em Petrópolis. Um luxo: o garçons todos de branco, gramados lindíssimos, cheio de flores.

À noite, dr. Arnon me convidou para a biblioteca, onde me contou a sua trajetória desde que, jovem, veio de Alagoas para o Rio e me estimulou a fazer a mesma trajetória. Disse que me mandaria para o Diário de Notícias, o que efetivamente fez e onde comecei como repórter policial.

Tempos depois, procurei o Dr. Arnon e manifestei o meu desejo de trabalhar em outra área de jornal, Foi quando, então, me recomendou para Odilo Costa, filho, que estava reformulando o Jornal do Brasil, um marco na evolução do jornalismo brasileiro.

Comecei no mesmo dia em que começou Leopoldo Collor, filho do Dr. Arnon, e que se tornou um bom amigo até a sua morte por câncer em São Paulo.

Odilo Costa Filho se desentendeu  com Dr. Brito, genro da Condessa Pereira Carneiro, dona do jornal, e se mudou para a TRIBUNA DA IMPRENSA, que pertencia ao Deputado Carlos Lacerda, um dos mais combativos tribunos brasileiros, responsável, dizem, pela queda e morte de Getulio Vargas.

Para a Tribuna, Dr. Odilo levou alguns repórteres selecionados, entre os quais tive o privilégio de ser convidado – e me transferi.

Pouco tempo depois de chegar à Tribuna, Sérgio Lacerda, filho do Deputado Carlos Lacerda, e diretor do jornal, me chamou na diretoria e me indicou para acompanhar Janio Quadros na sua vitoriosa campanha para a Presidência da República.

Viajei assim com Janio por vários Estados, orgulhoso, pois era o mais jovem repórter da comitiva.

Rubem Berta, então Presidente da Varig, viajava conosco, pois emprestou um DC 3 para Janio fazer a sua campanha. Hoje em São Paulo, no caminho do aeroporto de Congonhas, a Avenida se chama AVENIDA RUBEM BERTA. Cada vez que passo, me lembro do Sr. Berta, um figura imponente que, muitas vezes, me chamava no fundo do avião para tomar um whisky com ele.

O assessor de Imprensa de Janio na época era José Aparecido, mais tarde Prefeito de Brasilia e Embaixador do Brasil em Portugal. Zé Aparecido havia morado em Araxá, de forma que se tornou um bom amigo e possibilitava sempre que eu entrevistasse Janio, então imensamente solicitado pelo jornalistas.

Eleito Janio, fui a Brasília cobrir sua posse.

De volta, Sérgio Lacerda me ofereceu para dirigir a Sucursal do Jornal na capital federal – mas recusei e pedi uma licença de um ano, com garantia de retorno quando voltasse.

Sérgio concedeu e voltei a Araxá, onde durante um ano me dediquei à leitura de História e Filosofia – e terminei o curso de contabilidade na Escola de Comércio, criada pelo valoroso Edgard Maneira, também um bom amigo.

Fui indicado como orador da turma e convidei Zé Aparecido para paraninfo. Janio havia renunciado, num gesto que decepcionou todos os brasileiros e, assim, no meu discurso fiz duras críticas a essa atitude. Zé Aparecido procurou justificar, mas a população ainda estava impactada pela nebulosa renúncia, jamais explicada.

No ano seguinte, meu irmão, Adolfo, com quem sempre estive muito ligado, se mudou para São Paulo e eu o acompanhei na sequencia.

Em São Paulo, me apresentei no jornal ÚLTIMA HORA, de Samuel Wainer, apoiador de Jango, um jornal de forte tendência esquerdista.

Fui designado para cobrir a área militar e, assim, percorria o II Exército, Gecan 90, Campo de Marte e outras unidades militares, com fácil acesso pois sargentos e sub-oficiais eram leitores assíduos da Última Hora.

Lima Santana, diretor de Redação, se tornou um bom amigo e, certo dia, me recomendou que o encontrasse às 8 da noite na Rua dos Gusmões, no estúdio de uma empresa cinematográfica.

Para entrar, disse, precisava de uma senha, que me forneceu: bater 3 vezes alternando as portas de aço!

Assim fiz, ele abriu e me conduziu até um estúdio onde estava sendo exibindo um filme com forte tom revolucionário.

Quando acenderam as luzes, duas filas na minha frente, estava LUIZ CARLOS PRESTES, Presidente do Partido Comunista Brasileiro.

Lima me pegou pelo braço, levou-me até o Dr. Prestes e me apresentou:

– Dr. Prestes, o Paulo Menezes é o rapaz de que lhe falei.

Luiz Carlos Prestes estendeu-me a mão, eu o cumprimentei, disse que me sentia honrado de conhecê-lo.

Ele, então, me fez o seguinte convite:

– Menezes, o Lima me falou sobre você. Gostaria de convidá-lo a se unir a nós. Vamos lançar um grande jornal no Brasil, nos moldes do jornal russo Pravda. E gostaria que você viesse trabalhar conosco.

E acrescentou:

– O Jango já nos deu 500 milhões de cruzeiros para criar o jornal.

Por essa razão, sei que Jango estava ligado ao Partido Comunista.

Ponderei então:

– Dr. Prestes, eu não tenho formação doutrinária para integrar um jornal com essas características.

Ao que ele, respondeu:

– Não é preciso. Vamos mandar você para o Rio Grande do Sul cuidar da edição local. Todo o conteúdo dogmático será preparado aqui em São Paulo.

Agradeci, disse que iria pensar, fomos com ele até a porta, onde já o esperava uma limusine preta, na qual embarcou. E nunca mais o vi.

No dia 31 de março, deixei o jornal por volta das 9 da noite, quando o Lima preparava uma manchete assim:

– Falhou o golpe!

O pensamento dominante era que o movimento dos militares não iria triunfar.

No dia seguinte, saí do hotel onde morava, na Rua da Cantareira, por volta das 8 da manhã e fui à primeira banca comprar um exemplar da Última Hora.

O jornaleiro me informou então que o DOPS havia recolhido o jornal, pois os militares tinham tomado o Governo. A Revolução tinha vencido.

Cheguei mesmo assim ao jornal, que estava tomado pelos militares. Recolheram os meus documentos com a seguinte advertência:

– Se você trabalha aqui, não queira dar murros em ponta de faca.

Entendi a mensagem. O jornal estava sob censura.

Menos de um mês depois, procurei o policial chefe do DOPS e perguntei se havia alguma coisa contra mim e se eu poderia me demitir.

Ele disse que nada havia e me identificaram como um simples repórter que poderia me demitir no momento que desejasse – e foi o que fiz.

Eu e meu irmão, Adolfo, idealizamos então criar um jornal em Araxá – um jornal diário!

Era, sem dúvida, um arroubo da juventude, pois a cidade, se ainda hoje não comportaria um diário, imagine em 1964, cerca de 60 anos atrás!

Mas, partimos para a iniciativa e com o apoio do meu irmão, Nenê, que era muito bem relacionado em Araxá, criamos um sociedade anônima e conseguimos a adesão de vários empresários para montar o jornal.

Com uma linotipo modelo 5 – a mais modesta das linotipos – e um impressora plana de segunda mão, lançamos o Diário de Araxá e, na sequência, a Gazeta de Patrocínio, a Folha de Ibiá e a Gazeta de São Gotardo.

A estrutura gráfica era extremamente fraca para iniciativas tão ousadas.

Mas, o jornal despontou como uma novidade – e de início foi um sucesso.

Ainda inspirado na história de Humberto de Campos, que havia chegado à Academia Brasileira de Letras, sonhei criar uma Academia similar com os intelectuais de Araxá.

Convidei então Geraldo Porfirio Botelho, Gilberto Augusto Silva, Dr. Danilo Cunha e realizamos a primeira reunião na redação do Diário de Araxá, no Edifício Gil Dumont.

Apresentei uma minuta de Estatuto e expus a minha ideia.

Geraldo Porfírio se entusiasmou com a ideia e, juntamente com Gilberto, sugeriu que eu assumisse a primeira Presidência.

Ponderei que estava envolvido na luta para firmar o Diário de Araxá e, assim, não tinha tempo nem condições de implementar a Academia. A segunda reunião, então, foi realizada na Rádio Imbiára e Geraldo deu prosseguimento.

Na campanha para Governador de Minas, entendemos que deveríamos apoiar Israel Pinheiro e, assim, fizemos estimulados por Murilo Badaró que nos assegurou que, vencidas as eleições, o Governo do Estado daria um grande apoio à cidade, por nosso intermédio.

Ledo engano. Vencida a eleição, nenhuma das promessas foi cumprida e, pior, os comerciantes e profissionais liberais ligados à UDN, cancelaram assinaturas e suspenderam a publicidade.

Para tentar salvar o jornal, repassei a direção para Paulo Márcio que, na sequência, se lançou candidato a Prefeito, se elegeu e desativou o jornal.

Voltei, então, ao Rio, onde ingressei imediatamente no O GLOBO, no lugar de Mauro Sales, que estava saindo para criar a sua agência de Publicidade, com a qual atendeu a Willys e, depois, a Ford e se tornou um dos mais renomados publicitários, não só no Brasil, mas também no Exterior.

Recebi, então, do Dr. Roberto Marinho, com quem trabalhei vários anos, a missão de criar uma Revista a cores, impressa na Rio Gráfica e Editora, hoje Editora Globo, onde ele tinha ociosidade nas suas impressoras.

Lançamos, assim, a primeira revista a cores inserida em jornais, os quais, na época, eram todos tipográficos e, portanto, em preto-e-branco.

A revista foi um sucesso e eu me tornei um expert em Indústria Automobilística, editando, além da revista, um caderno semanal sobre lançamento de carros – e cheguei a ter um programa aos sábados no qual debatíamos e analisávamos os novos lançamentos.

Por divergências com o novo diretor comercial do jornal, Mário Bockman,  deixei o Globo.

O Governo Federal estava desenvolvendo um vigoroso esforço para implementar as exportações brasileiras e Paulo de Tarso Flexa de Lima assumiu o Departamento de Promoção Comercial do Itamarati. Convidado, participei do Programa viajando todo o Brasil e, através da CACEX, no Banco do Brasil, estimulava industriais a participarem das feiras internacionais promovidas pelo Governo.

A primeira, foi promovida em La Paz na Bolivia, onde desenvolvi um trabalho em conjunto com o Embaixador Cláudio Garcia de Souza, de que resultou o acordo do gás boliviano que o Brasil comprou e foi de grande importância para o nosso desenvolvimento.

Com o Embaixador, formatando o provável acordo, estive com o Coronel Hugo Banzer, Presidente da Bolívia e grande amigo e admirador do Brasil.

Na sequencia, fizemos em Santa Cruz e La Sierra e, na etapa, seguinte, na Colombia, na Feria Internacional de Bogotá, entre outras.

Foi uma rica experiência, que marcou o inicio do esforço brasileiro para recrudescer as nossas exportações, sustentáculo hoje do nosso desenvolvimento econômico.

Ao retornar ao Brasil, fui convidado por Ibanor Tartarotti, Presidente dos Diários e Emissoras Associados, para assumir um cargo de Diretor do Jornal do Commercio do Rio de Janeiro, onde estive por um bom tempo, mantendo inclusive uma coluna semanal.

Em 1988, 40 anos depois de chegar ao Rio, me aposentei e minha mulher, que era paulista, quis voltar à sua terra Natal, onde, infelizmente, acabou falecendo, vítima de uma patologia rara: HIPERTENSÃO ARTERIAL PULMONAR.

Como os medicamentos eram caríssimos e os doentes não tinham condições de adquirir, criei no Brasil a ABRAF – Associação Brasileira de Amigos e Familiares de Portadores de Hipertensão Arterial Pulmonar, através da qual promovi vários congressos em São Paulo e pleiteei o fornecimento dos medicamentos pelo Ministério da Saúde. Convocado por Gilmar Mendes, fui até o Supremo Tribunal Federal e, ali, fiz uma defesa do artigo 196 da Constituição, que assegura que a Saúde é Direito de todos e dever do Estado – inclusive de medicamentos que não estavam listados em portaria do Governo, como o Tracleer, indicado para combater a Endotelina, o vasoconstritor que provoca a Hipertensão Pulmonar.

Estava em meio a essa luta, quando recebi o convite para ingressar na Academia Nacional de Economia, onde até hoje ocupo uma cadeira.

E, neste entardecer, muitas vezes embarco nas asas da imaginação, empreendo um vôo no tempo e no espaço e pouso, numa manhã de julho de 1939, na modesta casa da Rua das Flores.

ONDE TUDO COMEÇOU!

Legendas:

Ao lado de Marcelo Alencar, Presidente do Encontro de Organizadores de Congresso da America Latina.

Nas Piramides Aztecas, no México.                  

Leitor assíduo do Correio de Araxá,onde comecei minha carreira.

Sugestão para chamada de capa. (foto com o cão).

Por Editor1

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