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mtoso poerdemPerdemos, mas ganhamos! Esta paradoxal afirmação serve para explicar o que vem acontecendo com nossas motocicletas, mais específicamente com a potência de seus motores. Para exemplificar, nada melhor do que números. A mais vendida das 125 de vinte anos atrás era, como ainde é hoje, a Honda CG. Na ficha técnica declarada pelo fabricante naquela época a potência era de 12,5 cavalos. Já a CG 125 atual tem 11,6 cavalos declarados. Redução semelhante ocorreu com a CB 500. A bicilíndrica fabricada no final dos anos 1990 tinha 54 cavalos, a atual, 50. Em duas décadas, cerca de 7% de redução em potência pura. Qual a razão? A resposta é simples: emporcalhar menos a atmosfera. Gases emitidos por motores a combustão interna são um inimigo a ser derrotado. Quanto menos poluentes um motor emite, melhor para a saúde do planeta e de seus habitantes. Programas de redução de gases nocivos são uma realidade consolidada em praticamente todos os países do mundo que tenham uma grande frota de veículos. O nosso é o PROMOT – Programa de Controle da Poluição do Ar por Motociclos e Veículos Similares, que desde 2002 estabeleceu metas para motores mais limpos. Na contrapartida mais evidente, essas metas acarretam a assinalada perda de potência. Um motor menos malvado com o meio ambiente se obtém trabalhando basicamente em duas frentes: otimizar a alimentação para que a queima do combustível aconteça de maneira eficiente e no tratamento dos gases resultantes desta combustão. Tecnicamente isso acontece com a troca dos anacrônicos carburadores por sistemas de injeção eletrônica, bem mais modernos e precisos, e filtrando o que é expelido pelo escapamento por meio de catalisadores. Dosar com precisão o combustível enviado à câmara de combustão é a principal vantagem da injeção eletrônica sobre os carburadores. Quanto menor for a quantidade de combustível queimado, menor a quantidade de gases expelida mas… menor também será a energia gerada. E quanto mais “estrangulada” for a saída dos gases queimados pelo escape, menor a capacidade do motor girar e “jorrar” potência. Ou seja, um problema de solução complexa no qual obter maior economia, aproveitamento energético e mímimas emissões de poluentes não poderiam resultar em motores decepcionantes e inseguros. Deste modo chegou-se a uma solução de compromisso e alguns cavalinhos foram sacrificados. Perdemos e basta, então? cg_125_fan_catalisador_c80f6ykNão é bem assim. Potência, normalmente expressa em cavalos ou cv (cavalo-vapor) é uma medida importante para avaliar a competência de um motor em cumprir bem sua tarefa de empurrar um veículo, mas perder alguns cavalos (potência) em nome do meio ambiente resultou em uma contrapartida interessante, um ganho de força, o torque. Certamente você já ouviu falar nele, o torque. Medido em Nm (Newton metro) ou kgf.m (quilograma força metro) é algo fácil de endenter na prática, mas difícil de explicar com palavras. Em síntese, torque é a força que você aplica quando usa uma chave de fenda para tentar afrouxar um parafuso. Ele pode girar ou não, mas a força está presente. Já a potência seria a força empregada quando o parafuso girar, e quanto mais rapidamente for este movimento, maior potência está sendo empregada. Em uma motocicleta, um motor de bom torque, bem distribuído no arco de rotações, garante retomadas de velocidade imediatas e vigorosas. Um motor muito potente consegue levar a motocicleta a velocidades elevadas. Um com muito torque, a vencer a inércia com maior facilidade. É o equilíbrio entre estes dois “parceiros”, potência e torque, que determina o caráter de uma moto: superesportivas devem ser obrigatóriamente potentes e sua faixa de torque máximo fica em rotação elevada. Já motos para o uso no dia a dia, seja em cidade, estrada ou uso misto, tendem a ser mais agradáveis quando o torque é elevado desde as mais baixas rotações, e assim permanece, bem distribuído, em todasíndice as faixas de giro do motor. Enfim, em nome de um planeta mais limpo, motores mudaram, a potência máxima diminuiu mas no lugar dela ocorreu uma saudável mudança que se percebe nitidamente: nas motos atuais é preciso girar menos o acelerador para tirá-las da imobilidade e ganhar velocidade. Abrimos mão de uma velocidade máxima mais elevada, mas esta, convenhamos, está cada vez mais difícil de ser alcançada sem desrespeito às leis. É a vitória do politicamente e ambientalmente correto sobre os excessos de outras épocas, sejam eles de consumo, fumaça ou quilômetros por hora.

Por Editor1

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