SEBASTIÃO FERREIRA DOS REIS

Mar 14, 2025 - 16:27
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SEBASTIÃO FERREIRA DOS REIS

Barbeiro

 

“Araxá está completando 150 anos, e eu, 76. Sou barbeiro na cidade há 46 anos e nunca tirei férias. E para falar dessa cidade que está em festa, a gente tem que voltar no tempo e relembrar o passado. Araxá já foi boa demais! Hoje eu me sinto em outro mundo, mas a cidade é um lugar diferente e inesquecível na minha vida. O tempo passa, e as coisas mudam muito depressa. Na minha memória desses 150, dos quais vivi metade, algumas coisas marcaram demais a minha vida. Na minha juventude, na época de rapaz solteiro, é impossível deixar de lembrar com saudade do tradicional e inocente “vai e vem” lá da Rua Boa Vista, hoje Presidente Olegário Maciel. Era uma coisa fantástica! Toda noite, principalmente nos fins de semana e feriados, a rua Boa Vista era fechada, e os rapazes punham a melhor roupa, caprichavam no penteado, engraxavam os sapatos e se perfumavam para o passeio de lá pra cá de um lado da rua. Já as moças, aprontavam-se com muita elegância, adornos nos cabelos e se perfumavam para encantar até as estrelas. Na época, eu ainda era solteiro, e a gente ficava andando com as amigas e namoradinhas até tarde da noite, com muito respeito e consideração. O “vai e vem” da Boa Vista  era um acontecimento único e muito especial e era a diversão sadia e inocente da nossa cidade. Tinha o Cine Brasil, o Clube Brasil e seus  bailes, e a gente era muito feliz. Naquela época, havia respeito, segurança e amizade verdadeira. Mas se existe um símbolo marcante na minha vida de rapazinho, nos 150 de Araxá, que sempre me encantou muito, é a Árvore dos Enforcados, lá no alto de Santa Rita. Ela me traz muitas lembranças boas. Que pena que ela morreu!  Cinquenta anos atrás, eu me sentava à noite, com amigos, no pé daquela árvore cheia de histórias, lendas e mistérios. Era uma árvore frondosa, grande, imponente e o melhor lugar para a gente conversar, apreciar o céu, as estrelas. Eu me recordo como se fosse hoje. Que pena que hoje aquela árvore de copa grande e toda verde só existe em nossa memória!  Mas a cidade mudou muito de lá pra cá. Algumas coisas melhoraram, mas a insegurança aumentou muito. Eu tenho três filhos, que criei, eduquei e formei ao lado de minha esposa, com muito trabalho e dedicação em Araxá. Às vezes, ficava na barbearia 16 horas seguidas sem comer nada. Mas valeu a pena! Foi em Araxá que eu venci, ganhei dinheiro como barbeiro, formei minha família e até hoje continuo trabalhando. Agradeço muito a Deus e a Araxá por essas conquistas. Aqui fiz muitos amigos, tive clientes fiéis e especiais e se sou alguém na vida hoje, é por causa dessa cidade chamada  Araxá.”         A reportagem foi veiculada na edição número 01 da Revista Araxá de dezembro de 2015.                                

 

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Redação - JI Redação do Jornal Interação da Cidade de Araxá - Minas Gerais.