Intérpretes do Trabalho
Quem são os teóricos e autores que estudaram o Trabalho? Entre estes estudiosos quais deles tornarem-se referência para a compreensão deste tema? E, por fim, quais são as principais teorias, as linhas mestras ou grandes correntes, sobre a questão do Trabalho?
Perguntas simples, respostas difíceis. Primeiramente, é importante dizer que o número de obras dedicadas ao tema é enorme e beira a impossibilidade de análise individual por qualquer estudioso. Segundo, nossa tarefa de buscar por obras de referência encontra-se facilitada por que outros estudiosos anteriormente já se debruçaram sobe essa questão, e pode-se na atualidade comparar as diversas contribuições existentes nesta área. Terceiro, as principais teorias ou correntes interpretativas, são tema de debates entre sociólogos, historiadores, economistas, juristas e filósofos e, portanto, encontram-se razoavelmente elencadas e estabelecidas e não necessariamente consensuadas.
Isso significa que ao falar-se sobre os intérpretes do Trabalho o problema maior seja o da abundância de obras, compilações, sínteses e outros textos e não da escassez de material.
Tal situação traz vantagens, desvantagens e impõe a necessidade de alguns esclarecimentos iniciais. O primeiro deles é que a palavra Trabalho está grafada com maiúsculo neste texto para sinalizar que aqui abordar-se o Trabalho humano, homo faber, e não o trabalho de animais ou de máquinas. O segundo deles é que a tabela que virá logo a seguir reúne os principais autores sobre o tema do Trabalho a partir de obras anteriores que tornaram tal síntese possível. O tema do Trabalho ocupa grande destaque em todas as ciências humanas e sociais e, portanto, a lista a seguir não é exaustiva, mas procurou-se centrar-se nas obras clássicas que marcaram época, também chamadas de paradigmáticas, independente de eventuais avaliações engrandecedoras ou depreciativas de cada uma delas.
Enfim, é uma tentativa de Estado da Arte, ou Estado do Conhecimento, dependendo da abordagem, sobre o tema do Trabalho, conforme pode ser visto na tabela a seguir:
Clássicos do Trabalho
Estado da Arte/Estado do Conhecimento
Filosofia – Sociologia – História – Economia – Direito
Nº | Autor | Obra principal | Data de Publicação original |
01 | Gregos antigos | Hesíodo, Xenofonte, Platão, Aristóteles. | 700 a. C. a 400 a. C. |
02 | Agostinho de Hipona (Santo Agostinho)
|
Confissões
A cidade de Deus |
400/410
|
03 | Adam Smith | A Riqueza das Nações | 1776 |
04 | Saint-Simon | O novo cristianismo | 1825 |
05 | Hegel | Fenomenologia do espírito | 1807 |
06 | Pierre-Joseph Proudhon | Filosofia da Miséria | 1846 |
07 | Karl Marx | O Capital: o processo de Produção do Capital – Vol. I | 1867 |
08 | Émile Durkheim | Da divisão do trabalho social | 1893 |
09 | Max Weber | A ética protestante e o espírito do capitalismo | 1905 |
10 | Hannah Arendt | A condição humana | 1958 |
11 | Georg Lukács
|
Por uma ontologia do ser social – 2 volumes | 1960 |
12 | Edward Palmer Thompson | A formação da classe operária inglesa – 3 volumes | 1963 |
13 | Jürgen Habermas | Técnica e ciência como ideologia | 1968 |
14 | Harry Braverman | Trabalho e capital monopolista | 1974 |
15 | André Gorz | Adeus ao proletariado | 1980 |
16 | Adam Schaff | Sociedade informática | 1982 |
17 | Claus Offe | Trabalho & Sociedade | 1984 |
18 | Robert Kurz | O colapso da modernização | 1991 |
19 | Ricardo Antunes | Adeus ao trabalho?
Os sentidos do trabalho |
1995/1999 |
Elaborada por: Luciano Marcos Curi (2022) |
Como se pode observar trata-se de uma lista numerosa que cobre grande período histórico e diversidade de abordagens. Tal opção deve-se ao fato de que no caso do tema do Trabalho geralmente as discussões concentram-se a partir da época moderna, o que pode ocasionar, eventualmente a impressão equivocada de que noutras épocas tais debates não ocorriam. Aconteciam, contudo, de forma diferente que realizamos na atualidade. Acreditamos que ressaltar essas diferenças seja uma forma eficaz de ampliar o entendimento sobre o que foi e o que é o Trabalho ao longo da história.
Isto posto resta dizer que inequivocadamente foi a partir da época moderna que o tema do Trabalho ganhou um maior destaque, o que ser observado, pelas datas das publicações das obras aqui elencadas. Mas, daí dizer que anteriormente não havia reflexão sobre o Trabalho é impróprio e até perigoso.
Por fim, resta esclarecer que aqui trata-se de uma listagem evidentemente circunscrita ao que se convencionou denominar de Ocidente, ou civilização Ocidental. Isso por que as concepções e formas de Trabalho em lugares como Índia, China, Islã, para citar apenas alguns exemplos, tanto na época antiga, quanto moderna, não estão contempladas pela dificuldade que tal tarefa exige, e até o momento está praticamente em aberto tal desafio aos estudiosos de ciências humanas e sociais.
Sabe-se que o Trabalho como ação humana sobre a natureza e sobre o próprio ser humano ou para o ser humano, remonta a pré-história. Isso, no entanto, não significa que havia clareza e uma teorização específica sobre esta dimensão do Mundo da Vida desde os primórdios. Ao contrário, ela demorou a aparecer, embora que quando emergiu o fez de maneira vigorosa.
Assim, entre as grandes correntes teóricas sobre a questão do Trabalho destaca-se a contribuição dos pais da sociologia: Marx, Weber e Durkheim. A partir da contribuição de cada um destes originou-se uma escola interpretativa do Trabalho, embora, indiscutivelmente o marxismo tenha se aprofundado e se dedicado mais a questão e deixado legados importantíssimos.
Agora, quanto as grandes discussões e temáticas envolvendo o Trabalho destacam-se várias, entre elas: a separação do Trabalho com as demais dimensões da vida social no mundo antigo; variações históricas do Trabalho em diversas culturas e épocas; Mundo do Trabalho e Mundo da Vida; falta e excesso de Trabalho, ou emprego; representações sociais sobre o Trabalho; centralidade do Trabalho; homo faber; continuidade e descontinuidades da história do Trabalho; Trabalho, riqueza e pobreza; Trabalho, realização e opressão; Trabalho e lazer; formação para o Trabalho, entre tantos outros.
Enfim, seja como for, o Trabalho é tema importantíssimo e central na vida social. Atualmente o debate sobre sua importância prossegue, principalmente sobre o lugar, o tempo e o grau de ocupação que deve impor às nossas vidas. Além disso, precisamos entender e rever formas históricas do Trabalho como o compulsório, o voluntário e o dito Trabalho livre. Revisitar antigos e modernos é uma forma de nos iluminarmos, o primeiro passo, para nos revermos e reconstruirmo-nos, com coragem.
Prof. Luciano Marcos Curi – Pós-Doutor em História Social – IFTM – Câmpus Uberaba – Contato: lucianocuri@iftm.edu.br