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FIQUE COM DEUS ALCINO

16//08/2019- 17:10

PorEditor1

ago 16, 2019

 

Fique com Deus, Alcino!

Hoje, neste espaço, não vamos falar de futebol, mas vamos falar

de amor, de vida, de saudade, de amizade e de profissionalismo

 

 Alcino, agora, agora mesmo, cheguei na janela do meu quarto, abri, e senti uma brisa fresca, e me lembrei do clima de Araxá. Mas já faz mais de 45 anos que saí de nossa terra natal, então a recordação que me veio foi de nossos tempos de infância e adolescência. Eu, criança, você, adolescente, onze anos mais velho do que eu. Você, o filho mais velho de ‘Seu’ Bita e Dona Edith, e eu o filho mais novo, entre nós os irmãos Nicanor, Daniel e Luiz e uma irmã, nossa querida Conceição.

Eu sei que neste momento você não vai poder ler, nem escutar estas palavras que escrevo pra você, porque já não está entre nós; após uma séria cirurgia para tirar um tumor no fígado, você não resistiu e acabou falecendo às 15 horas e 15 minutos do dia 9 de agosto, sexta-feira, exatamente no momento em que sua última matéria chegava às bancas por meio deste jornal.

Mas eu queria lembrar aqui aqueles tempos simples e felizes, da nossa pobreza e de todo o amor e alegria que jorrava naquela casa da Rua Costa Senna, 163, se não me engano. A primeira lembrança que tenho de você é jogando bola na porta de casa, tendo do outro lado da rua o alto muro do Colégio São Domingos. A certa altura a bola subiu e caiu do outro lado do grande muro. Mas você, como o mais velho, foi o único que teve a coragem de pular o muro e pegar a bola.

Eu devia ter 4 ou 5 anos, então você estaria com 15 ou 16 anos. Como éramos felizes. Lembro-me que aquela foi a única bola de couro que tivemos, não sei se foi comprada, mas imagino que foi ganha de alguém, já de segunda mão. Esse jogo de bola chamado futebol iria marcar sobremaneira toda a nossa vida – principalmente a sua e a minha.

Ainda muito jovem, você foi trabalhar como projetor de filmes no cine Brasil. Assim, nós, os irmãos, que nunca teríamos dinheiro para ir ao cinema, entrávamos de graça. Daniel, Luiz e eu íamos todos os domingos à matinê. Foi assim que me apaixonei pelos heróis Tarzan, Fantasma, Zorro e muitos outros!

Tenho outras boas lembranças de quando já havíamos mudado para a Rua Perdizes, 136, bem pertinho dali, onde passamos a maior e melhor parte de nossas vidas – pelo menos eu penso assim. Ali eu morei de 1960 até 1973, quando me mudei para BH. Você, indo e vindo, morava em São Paulo, mas uma época voltou para casa.

Outra boa lembrança que tenho é que o meu primeiro serviço, o primeiro dinheiro que ganhei na minha vida veio de você. Você disse que se eu engraxasse seus sapatos me daria 2 cruzeiros! Eu fiz correndo!!

A bola sempre esteve presente em sua vida. Primeiro jogando, depois como comentarista, locutor e colunista de esporte. E foi a bola que me fez ficar bravo com você um dia. Estávamos, Luiz e eu, nosso querido irmão que já se foi, – e foi tão cedo, com apenas 58 anos – estávamos jogando com uma pequena bola de borracha na porta de casa. Você chegou do serviço, vestido socialmente e com seus impecáveis sapatos engraxados, e quis participar da brincadeira. A primeira bola que quicaram para você, você deu um chute tão forte, tão forte, que ela passou por cima de nossa casa, por cima da outra e sumiu. Acabou-se a brincadeira! Fiquei bravo, amuado, mas nada disse. Afinal, todos nós te respeitávamos. Nunca mais vimos a tal bola.

E a bola continuou fazendo parte de nossas vidas. Você, eu e meu filho, Rafael, somos jornalistas. Você, primeiro radialista, locutor comercial e depois locutor de esportes da ZYI-4 – Rádio Imbiára de Araxá. Trabalhou em jornais, compôs maravilhosas canções e jogava – até que bem, na defesa – futebol. Eu e Luiz fomos bons goleiros, tive até convite para treinar no América F. C., mas o que gostava mesmo era de jogar no Colégio Dom Bosco e depois no Internacional, time de várzea que ajudei a fundar.

Ah, como éramos felizes (e não sabíamos). Em nossa pobreza, tínhamos tudo o que o mundo pode nos oferecer: carinho, amor, alegria, saúde e segurança. Quem conheceu mamãe sabe do que eu estou falando. A educação que ela nos criou direcionou toda a nossa vida. Papai e mamãe não puderam cursar uma faculdade. Mas fizeram todos nós estudar e hoje todos os seus filhos venceram financeiramente na vida, graças ao nosso esforço e trabalho. Você e Daniel administradores de empresas, Nicanor economista, Concheta professora, Luiz veterinário e eu jornalista.

O tempo passou… Todos nós crescemos e casamos, todos tivemos filhos que também já cresceram. E todos nós já temos netos e netas. Vivemos uma vida cheia de amor, alegria, encontros de família, dificuldades e enfrentamentos, tudo em nome de Deus, Aquele que mamãe nos ensinou a conhecer e adorar.

Seguimos caminhos diferentes, é verdade. Só você e Concheta ficaram morando em Araxá; os demais foram para outros locais onde o estudo e o trabalho exigiam de cada um. Mas sempre que podíamos estávamos juntos, naquela fraternidade invejável em qualquer família. Todos amigos, todos alegres, todos vitoriosos na vida.

Mas vamos falar novamente de você. Aprendi muito com você, Alcino! Que bons momentos passamos juntos, você com seu vozeirão cantando e eu, acompanhando-o, muito mal, no violão, e cantando junto, às vezes com o Nicanor, a Concheta e o Luiz também – o Daniel é o desafinado da família. Acho que ele começou a trabalhar tão cedo, como o Nicanor, que não deu tempo de aprender a tocar violão. Apesar de que, de todos os irmãos, quem toca melhor é o Nicanor, que desde criança trabalha. O seu amor pela música foi transmitido à sua filha Thaís, que desde cedo canta com uma voz maravilhosa e afinada, além de compor também, mas principalmente na neta Júlia, que é a herdeira da veia musical do avô. Com apenas 12 anos, já ganhou festivais e está inscrita no The Voice Kids.

Alcino, você era simplesmente uma enciclopédia do futebol brasileiro e em especial do futebol araxaense. Sabia de cor diversas escalações históricas do Santos, da seleção brasileira, de muitas formações do Najá, Ipiranga, Araxá Esporte e muitas outras equipes brasileiras. Sua prodigiosa memória guardou uma quantidade inigualável de fatos que se transformaram em ricas crônicas aqui neste espaço. Aliado a um rico arquivo de fotos antigas, esta memória deverá, em breve, se transformar em um livro que resguarde as lembranças do fértil futebol de Araxá, que tantos frutos rendeu para o futebol brasileiro.

Assim como a bola, a música também fez parte da nossa vida. Com nossos pais aprendemos a ouvir boa música, e praticamente todo mundo lá em casa ou canta ou toca violão – alguns, ambos.

Não sei se todos sabem, mas como compositor você teve como maior sucesso a música ‘A Boiada’, que participou do Festival de Música Sertaneja e foi gravada por famosos cantores e duplas, tais como Sérgio Reis, Liu e Léo, Dino Franco etc. Outro sucesso foi ‘Velho carro de boi’, na voz de Delmonte e Amaraí. Mas claro, o seu maior sucesso foi se casar com a gaúcha Nilda, ter duas filhas, Thaís e Renata, que lhe deram os netos Lívia, Laura, Vitor, Júlia e Larissa.

Enfim, viemos, vimos e vencemos! Vivemos uma vida longa e feliz, cheia de muito amor, alegria, dificuldades e às vezes tristeza, mas sempre em harmonia.

Hoje estou com os olhos marejados, irmão! Estou realmente triste por perder você, meu irmão querido, meu irmão mais velho, meu irmão companheiro no jornalismo, no futebol, na vida.

Nos últimos tempos, Alcino, você e eu nos falávamos duas, três e até quatro vezes por dia, via Whatsapp, e eu sempre me despedia dizendo “fique com Deus, Alcino”. E agora, mais do que nunca, sei que ele está com o Senhor nos céus: FIQUE COM DEUS, ALCINO!

 

 

João Batista de Freitas, irmão de Alcino, é araxaense, jornalista, revisor, bancário aposentado, casado, dois filhos e uma neta.

 

Foto 1 – Alcino, sua esposa, Nilda (falecida), Renata e Thaís

Foto 2 – Alcino com a irmã, as filhas e os netos

Fique com Deus, Alcino!

Hoje, neste espaço, não vamos falar de futebol, mas vamos falar

de amor, de vida, de saudade, de amizade e de profissionalismo

 

 

Alcino, agora, agora mesmo, cheguei na janela do meu quarto, abri, e senti uma brisa fresca, e me lembrei do clima de Araxá. Mas já faz mais de 45 anos que saí de nossa terra natal, então a recordação que me veio foi de nossos tempos de infância e adolescência. Eu, criança, você, adolescente, onze anos mais velho do que eu. Você, o filho mais velho de ‘Seu’ Bita e Dona Edith, e eu o filho mais novo, entre nós os irmãos Nicanor, Daniel e Luiz e uma irmã, nossa querida Conceição.

Eu sei que neste momento você não vai poder ler, nem escutar estas palavras que escrevo pra você, porque já não está entre nós; após uma séria cirurgia para tirar um tumor no fígado, você não resistiu e acabou falecendo às 15 horas e 15 minutos do dia 9 de agosto, sexta-feira, exatamente no momento em que sua última matéria chegava às bancas por meio deste jornal.

Mas eu queria lembrar aqui aqueles tempos simples e felizes, da nossa pobreza e de todo o amor e alegria que jorrava naquela casa da Rua Costa Senna, 163, se não me engano. A primeira lembrança que tenho de você é jogando bola na porta de casa, tendo do outro lado da rua o alto muro do Colégio São Domingos. A certa altura a bola subiu e caiu do outro lado do grande muro. Mas você, como o mais velho, foi o único que teve a coragem de pular o muro e pegar a bola.

Eu devia ter 4 ou 5 anos, então você estaria com 15 ou 16 anos. Como éramos felizes. Lembro-me que aquela foi a única bola de couro que tivemos, não sei se foi comprada, mas imagino que foi ganha de alguém, já de segunda mão. Esse jogo de bola chamado futebol iria marcar sobremaneira toda a nossa vida – principalmente a sua e a minha.

Ainda muito jovem, você foi trabalhar como projetor de filmes no cine Brasil. Assim, nós, os irmãos, que nunca teríamos dinheiro para ir ao cinema, entrávamos de graça. Daniel, Luiz e eu íamos todos os domingos à matinê. Foi assim que me apaixonei pelos heróis Tarzan, Fantasma, Zorro e muitos outros!

Tenho outras boas lembranças de quando já havíamos mudado para a Rua Perdizes, 136, bem pertinho dali, onde passamos a maior e melhor parte de nossas vidas – pelo menos eu penso assim. Ali eu morei de 1960 até 1973, quando me mudei para BH. Você, indo e vindo, morava em São Paulo, mas uma época voltou para casa.

Outra boa lembrança que tenho é que o meu primeiro serviço, o primeiro dinheiro que ganhei na minha vida veio de você. Você disse que se eu engraxasse seus sapatos me daria 2 cruzeiros! Eu fiz correndo!!

A bola sempre esteve presente em sua vida. Primeiro jogando, depois como comentarista, locutor e colunista de esporte. E foi a bola que me fez ficar bravo com você um dia. Estávamos, Luiz e eu, nosso querido irmão que já se foi, – e foi tão cedo, com apenas 58 anos – estávamos jogando com uma pequena bola de borracha na porta de casa. Você chegou do serviço, vestido socialmente e com seus impecáveis sapatos engraxados, e quis participar da brincadeira. A primeira bola que quicaram para você, você deu um chute tão forte, tão forte, que ela passou por cima de nossa casa, por cima da outra e sumiu. Acabou-se a brincadeira! Fiquei bravo, amuado, mas nada disse. Afinal, todos nós te respeitávamos. Nunca mais vimos a tal bola.

E a bola continuou fazendo parte de nossas vidas. Você, eu e meu filho, Rafael, somos jornalistas. Você, primeiro radialista, locutor comercial e depois locutor de esportes da ZYI-4 – Rádio Imbiára de Araxá. Trabalhou em jornais, compôs maravilhosas canções e jogava – até que bem, na defesa – futebol. Eu e Luiz fomos bons goleiros, tive até convite para treinar no América F. C., mas o que gostava mesmo era de jogar no Colégio Dom Bosco e depois no Internacional, time de várzea que ajudei a fundar.

Ah, como éramos felizes (e não sabíamos). Em nossa pobreza, tínhamos tudo o que o mundo pode nos oferecer: carinho, amor, alegria, saúde e segurança. Quem conheceu mamãe sabe do que eu estou falando. A educação que ela nos criou direcionou toda a nossa vida. Papai e mamãe não puderam cursar uma faculdade. Mas fizeram todos nós estudar e hoje todos os seus filhos venceram financeiramente na vida, graças ao nosso esforço e trabalho. Você e Daniel administradores de empresas, Nicanor economista, Concheta professora, Luiz veterinário e eu jornalista.

O tempo passou… Todos nós crescemos e casamos, todos tivemos filhos que também já cresceram. E todos nós já temos netos e netas. Vivemos uma vida cheia de amor, alegria, encontros de família, dificuldades e enfrentamentos, tudo em nome de Deus, Aquele que mamãe nos ensinou a conhecer e adorar.

Seguimos caminhos diferentes, é verdade. Só você e Concheta ficaram morando em Araxá; os demais foram para outros locais onde o estudo e o trabalho exigiam de cada um. Mas sempre que podíamos estávamos juntos, naquela fraternidade invejável em qualquer família. Todos amigos, todos alegres, todos vitoriosos na vida.

Mas vamos falar novamente de você. Aprendi muito com você, Alcino! Que bons momentos passamos juntos, você com seu vozeirão cantando e eu, acompanhando-o, muito mal, no violão, e cantando junto, às vezes com o Nicanor, a Concheta e o Luiz também – o Daniel é o desafinado da família. Acho que ele começou a trabalhar tão cedo, como o Nicanor, que não deu tempo de aprender a tocar violão. Apesar de que, de todos os irmãos, quem toca melhor é o Nicanor, que desde criança trabalha. O seu amor pela música foi transmitido à sua filha Thaís, que desde cedo canta com uma voz maravilhosa e afinada, além de compor também, mas principalmente na neta Júlia, que é a herdeira da veia musical do avô. Com apenas 12 anos, já ganhou festivais e está inscrita no The Voice Kids.

Alcino, você era simplesmente uma enciclopédia do futebol brasileiro e em especial do futebol araxaense. Sabia de cor diversas escalações históricas do Santos, da seleção brasileira, de muitas formações do Najá, Ipiranga, Araxá Esporte e muitas outras equipes brasileiras. Sua prodigiosa memória guardou uma quantidade inigualável de fatos que se transformaram em ricas crônicas aqui neste espaço. Aliado a um rico arquivo de fotos antigas, esta memória deverá, em breve, se transformar em um livro que resguarde as lembranças do fértil futebol de Araxá, que tantos frutos rendeu para o futebol brasileiro.

Assim como a bola, a música também fez parte da nossa vida. Com nossos pais aprendemos a ouvir boa música, e praticamente todo mundo lá em casa ou canta ou toca violão – alguns, ambos.

Não sei se todos sabem, mas como compositor você teve como maior sucesso a música ‘A Boiada’, que participou do Festival de Música Sertaneja e foi gravada por famosos cantores e duplas, tais como Sérgio Reis, Liu e Léo, Dino Franco etc. Outro sucesso foi ‘Velho carro de boi’, na voz de Delmonte e Amaraí. Mas claro, o seu maior sucesso foi se casar com a gaúcha Nilda, ter duas filhas, Thaís e Renata, que lhe deram os netos Lívia, Laura, Vitor, Júlia e Larissa.

Enfim, viemos, vimos e vencemos! Vivemos uma vida longa e feliz, cheia de muito amor, alegria, dificuldades e às vezes tristeza, mas sempre em harmonia.

Hoje estou com os olhos marejados, irmão! Estou realmente triste por perder você, meu irmão querido, meu irmão mais velho, meu irmão companheiro no jornalismo, no futebol, na vida.

Nos últimos tempos, Alcino, você e eu nos falávamos duas, três e até quatro vezes por dia, via Whatsapp, e eu sempre me despedia dizendo “fique com Deus, Alcino”. E agora, mais do que nunca, sei que ele está com o Senhor nos céus: FIQUE COM DEUS, ALCINO!

 

 

João Batista de Freitas, irmão de Alcino, é araxaense, jornalista, revisor, bancário aposentado, casado, dois filhos e uma neta.

 

Foto 1 – Alcino, sua esposa, Nilda (falecida), Renata e Thaís

Foto 2 – Alcino com a irmã, as filhas e os netos

 

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