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SEMENTES E SUAS DISPERSÕES

22//08/2014- 17:00

PorEditor1

ago 22, 2014

 

Por: Lobo Júnior

Nosso país tem uma ligação direta com a flora desde seu nome, em referência ao Pau-brasil (Caesalpinia echinata) cujo lenho avermelhado, semelhante a “brasa”, era utilizado na produção tanto de tinta de escrever como no feitio de corante para tecidos. Sua família, a dita LEGUMINOSA –  em razão aos frutos serem vagens, portanto um legume – tem vários representantes que arborizam nossas praças, alamendas e jardins. A exemplo disso temos o Pau-ferro, Sibipiruna, Canafístula, Barbatimão, Pau-de-óleo, Angico-branco, etc.

Interessante são seus métodos engenhosos de dispersão, encontrados pela natureza para “espalhar” suas sementes de formatos, pesos e peculiaridades diversas, tanto que algumas necessitam de uma “ajudinha” extra de alguns parceiros de outro Reino (falaremos disso mais a frente).

Parte dessas sementes possuem apêndices laterais tais quais uma aleta (FOTO A) que garante seu afastar da árvore-mater após pegar “carona” no vento. Seu vôo espiralado nos remete ao projeto davinciano do helicóptero e seus exemplos são vistos nas seguintes árvores: Angá-roxo, Farinha-seca, Roxinho, Amendoim-do-campo. Outras se soltam da própria vagem e, levadas também pelo vento, somem mata adentro: Pau-cigarra, Fedegoso, Pata-de-vaca, Sibipiruna. Uma espécie em particular, o Guapuruvu (Schizolobium parahyba), abundante em Araxá, chega à sofisticação de, além da vagem, possuir dentro desta um invólucro, em forma de folha, que tal qual um envelope (FOTO B), carrega uma única semente a longas distâncias. Claro que a altura da mencionada árvore, que pode ultrapassar os 25 metros, contribui bastante se seguida de uma boa rajada eólica.

Outra surpresa se vê na Família das BIGNONIACEAES. Suas sementes são achatadas e revestidas por uma fina camada translúcida semelhante a papel de seda que sobressai a semente e, com isso, tal uma asa-delta, alcança longas distâncias mesmo com uma suave brisa (FOTO C). Assim são os Ipês, Carobas, Caxetas, Jacarandás e demais da sinonímia botânica.

Já a citada ajuda, vem de animais que rompem a dura camada de alguns frutos antes que esses sequem nos galhos, ou seja, invadidos por insetos danificando assim as sementes. É o caso dos Jatobás, Ingás e Palmeiras, que têm nos Psitacídeos – Papagaios, maritacas, araras – fortes aliados que, por possuírem bicos poderosos, ajudam a expor as sementes ao quebrar as cascas destes frutos bem protegidos, deixando a natureza fazer o restante. Outra relação entre sementes e aves ocorre com as figueiras. Algumas aves que se alimentam dos diversos tipos de figos, acabam levando em seus organismos as minúsculas sementes misturadas com a polpa destes e, ao defecar distantes do local de origem propagam a continuidade desse ciclo. Algumas sementes, contudo carecem passar por um processo conhecido em botânica por ESCARIFICAÇÃO (ato abrasivo que pode ser químico ou mecânico que visa diminuir a camada envolta a semente facilitando assim sua germinação). Esse processo pode-se dar inclusive no sistema digestivo de aves, mamíferos e répteis, via enzimas, ácidos estomacais ou bactérias intestinais e, ao “sair”, além do transporte, receberam um extra de adubo apropriado à germinação. Mencionamos poucas dentre as inúmeras soluções encontradas para espalhar e assim disseminar essa miríade de espécies vegetais. Os métodos são diversos, criativos e muitos ainda desconhecidos.

Mas reparem leitores, na importância dessa cadeia de entremeios envolvendo árvores, animais e, não podemos esquecer, do clima. Sobre este último nossa ação é questionada sobre sua real relevância, se total, parcial ou mesmo, inconsistente, uma vez que mudanças climáticas vêm se alternando de tempos em tempos mesmo antes da ascensão dos Hominídeos africanos. Porém, quanto a FAUNA e FLORA, é inegável que ameaçamos diretamente romper esse elo milenar e, com isso, a não mais podermos vislumbrar algumas das mais belas exibições que é florescimento desses extraordinários seres arbóreos que hoje poucos dão valor. Mas faça um teste, pergunte aos mais velhos se eles sentem falta de alguma árvore que hoje eles não avistam mais…

Por Editor1

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