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A bicicleta, a mobilidade urbana e a saúde mental de seus praticantes

 

 No texto dessa semana vamosfalar sobre mobilidade urbana, sobre o papel da bicicleta no “desafogamento” do trânsito insustentável que nos cerca e que caminha para o colapso dia e noite, além do papel que a bike desempenha em relação ao bem-estar social de uma cidade. Com essa pandemia, todas as academias fechadas e reabrindo apenas agora e com a necessidade de cuidados com a saúde aflorando para muitas pessoas, a bicicleta representou a escolha ideal e perfeita para uma vida saudável e com mais qualidade. Esse aumento de ciclistas pode ser sentido nas trilhas por aí ou até mesmo nas lojas de bicicletas que têm vendido cada vez mais a ponto de não terem mais bicicletas para abastecerem o mercado crescente. Mas qual o real papel da bicicleta na mobilidade urbana, no bem-estar social, na saúde mental e na melhoria da qualidade de vida das pessoas?

Bom, vamos começar pelo papel fundamental da bicicleta no “desafogamento” do trânsito. Um carro ocupa, de acordo com o site Menos 1 Carro, em média uma área de 6 m². Esses 6m² muitas das vezes são ocupados para o deslocamento de apenas UMA pessoa. Imagine quando dezenas, centenas, milhares de pessoas se deslocam com o carro para realizar atividades banais na cidade?! A tendência é a superlotação das vias, causando congestionamentos e impedindo o fluxo contínuo do trânsito. Quando essa mesma pessoa utiliza a bicicleta para percorrer o mesmo trajeto ela ocupa uma área de, aproximadamente, 1,8m², (de acordo com a Associação de Ciclismo de Balneário Camboriú e Camboriú). Ou seja, a bicicleta diminui em média 3,33 vezes a área ocupada por um carro com uma única pessoa. Só por aqui já é possível notar o quanto a bicicleta é viável como alternativa para o colapso do trânsito em qualquer lugar.

No entanto, a grande questão da mobilidade urbana relaciona-se com a gestão pública, com os investimentos em infraestrutura que sejam capazes de dar ao ciclista urbano segurança para ir de um lado para o outro dentro da cidade. O básico para qualquer cidade que se preocupa efetivamente com seus moradores ciclistas seria a delimitação de ciclovias e ciclofaixas nas vias com marcação horizontal e largura mínima para o trânsito das bikes. Além disso é necessário a instalação de linhas de retenção que impeçam os veículos automotores de adentrarem os espaços destinados para a locomoção das bicicletas. É importante também a sinalização (vertical e horizontal), em todo o percurso da ciclovia e ciclofaixa visando orientar os ciclistas e os motoristas que por ali trafegam. Essa infraestrutura básica é necessária para que se tenha uma locomoção segura de bicicletas na cidade, cuidando da saúde física dos ciclistas.

Cabe ressaltar que as bicicletas não emitem nenhum tipo de gases poluentes, sejam eles derivados de carbono ou de enxofre. Esses gases são gerados a partir da queima dos combustíveis fósseis pelos motores dos veículos. De acordo com uma matéria do programa de televisão da Rede Globo “Eu Atleta”, a cada quilômetro rodado com uma bicicleta poupa-se o consumo de 50 a 100 ml de gasolina, o que acaba por evitar a emissão de 113 gramas de gás carbônico. De modo genérico os compostos derivados de carbono e enxofre, que são gerados na queima dos combustíveis fósseis, são capazes de causar a chuva ácida quando em contato com a água no estado gasoso que se encontra na atmosfera. Além disso esses gases aumentam o efeito estufa que consiste na maior retenção de raios ultravioletas causando o aumento da temperatura na superfície da terra. Esses dois últimos assuntos, chuva ácida e efeito estufa, são infinitamente mais complexos e merecem um texto especial para maiores esclarecimentos posteriormente.

Voltando a temática da bicicleta é importante considerar o ciclista como uma ferramenta importante para a sustentabilidade de qualquer rede de trânsito urbano e não como um obstáculo a ser vencido ou evitado. Quantas pessoas utilizam esse meio de transporte buscando algo mais barato ou até mesmo por não ter condições de adquirir um carro ou algo parecido? Essas pessoas “cuidam” para que o trânsito não entre em colapso, para que, de alguma forma e na medida do possível, os veículos consigam se locomover. Além disso, de acordo com o Código de Trânsito Brasileiro, os pedestres têm prioridade sobre os ciclistas e os ciclistas têm prioridade sobre outros veículos. Outro aspecto, e talvez o mais importante, em cima da bicicleta vai uma vida, vai uma mãe ou um pai de família, vai um irmão ou uma irmã, um filho ou uma filha, vai uma pessoa amada por alguém e que precisa sair e voltar para casa com segurança física e mental.

Quando analisamos o papel da bicicleta no bem-estar social e na melhoria da qualidade de vida, sua importância aumenta ainda mais. Pessoas que praticam exercícios são mais resilientes, autônomas, possuem maior coordenação motora, são mais atentas e disciplinadas além de serem mais abertas ao convívio social. De acordo com uma matéria do programa de televisão da Rede Globo “Bem-Estar”, por ser uma atividade aeróbica os exercícios em cima da bike promovem um aumento na produção das betas endorfinas, o que acaba por aumentar a sensação de prazer/alegria, além de promover o controle da pressão arterial e controle da glicemia. Experimente ir para o trabalho de bicicleta e sinta a sensação de chegar mais viva do que nunca para iniciar suas atividades laborais, você deixará de lado aquela sensação de cansaço e preguiça logo cedo que toda pessoa sente quando vai de carro para o serviço. Resumindo, ciclistas são pessoas mais felizes, mais dispostas, mais sociáveis e mais saudáveis.

Investir nesse esporte é investir em qualidade de vida a curto e longo prazo, é promover o bem-estar social não apenas das pessoas que o praticam, mas de todas as pessoas que, de alguma forma, convivem com o ciclista. É diminuir os gastos públicos e privados com saúde pública (haja visto que ciclistas têm menor propensão ao desenvolvimento de doenças diversas), é promover uma sociedade mais feliz e mais saudável para todos, é promover a mobilidade urbana desafogando o trânsito e dando condições para que todos usufruam das vias e dos meios de locomoção.

 

Juliana Silva

Engenheira Ambiental

Especialista em Saneamento Ambiental – IFTM Uberaba

Mestre em Sustentabilidade Sócio Econômica e Ambiental – UFOP HIDROEX Frutal

 

Por Editor1

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