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Coluna Ciclo Ambiental

26//06/2020- 19:53

PorEditor1

jun 26, 2020

Por: Juliana Silva

 

Engenheira Ambiental

Especialista em Saneamento Ambiental – IFTM Uberaba

Mestre em Sustentabilidade Sócio Econômica e Ambiental – UFOP HIDROEX Frutal

 

“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. O texto anterior é a transcrição na íntegra do Artigo 225 da Constituição Federal de 1988. Como pode ser notado, nele está assegurado o direito de acesso ao meio ambiente conservado e equilibrado, necessário para o desenvolvimento de qualquer ser vivo, não só para as presentes gerações mas para todas as que ainda virão. Mostra também que para isso é fundamental a participação e gestão do poder público, mas em momento algum exime as pessoas e suas comunidades, da sua responsabilidade frente à essa temática. Mas, quando analisamos o nosso “meio ambiente”, será que temos realmente contribuído para a sua conservação? Será que as empresas (públicas e privadas) também têm feito o seu papel? Será que os gestores públicos têm assumido efetivamente e realmente a sua responsabilidade frente às questões ambientais?

Para tentar responder a essas e outras questões relacionadas o meio que nos cerca vamos parar, analisar a nossa rua, o nosso quarteirão. Vamos sair no portão e ver o estado de conservação do solo ao nosso redor, vamos olhar para o céu e tentar perceber se há algum indício de poluição atmosférica, vamos olhar nos quintais dos nossos vizinhos e ver se há ou não árvores plantadas, hortinha no fundo do quintal, plantas na varanda. Tente perceber se há lixo no chão, se há esgoto à céu aberto, se as casas recebem água encanada da empresa responsável por tal serviço. Veja se há pássaros, se eles são aqueles comuns ou se são aqueles mais difíceis de serem vistos. Observe! Tenha calma e observe o meio em que você vive.

Parece óbvio fazer o que se pede no parágrafo anterior, mas não é. Não paramos para sentir e perceber o meio em que vivemos, não paramos para observar os nossos arredores, nos deixamos levar por toda a correria diária e não paramos para sentir o nosso meio ambiente. Se não sentimos algo por determinada coisa, lugar ou pessoa, como vamos cuidar dessa determinada coisa, lugar ou pessoa?! Aí está a grande questão ambiental. Nós não temos apresso pelo meio ambiente e se não temos não nos importamos com ele. Fica difícil, se não impossível, cuidar de algo que nos passa despercebido, que não nos toca ao ponto de despertar o interesse de conservá-lo ou preservá-lo.

Se no Artigo 225 da Constituição Federal de 1988 diz que é responsabilidade de todos cuidar do meio ambiente, como eu me dou ao direito de simplesmente não cuidar? Como tenho o direito de tomar da natureza o que preciso e sujeitar meus filhos, netos, bisnetos, tataranetos, a não terem acesso a isso? Soa um tanto quanto como um tremendo egoísmo e irresponsabilidade da nossa parte sujeitar as futuras gerações a falta de recursos naturais essenciais para a manutenção da vida.

Quando saio para pedalar vejo nas estradas vicinais inúmeros pontos clandestinos de descarte de lixo, pessoas que saem do perímetro urbano para depositarem seus lixos na zona rural de forma totalmente irregular e irresponsável. Já cheguei a presenciar um carro,possivelmente com um pai, uma mãe e dois filhos pequenos no banco de trás, onde a mãe simplesmente pegou a sacola de lixo de dentro do carro e arremessou em um depósito clandestino de lixo. Pare e pense, qual o parâmetro de correto e errado que essas crianças criarão em suas cabeças ao verem seus pais tratando o meio ambiente com tanto desdém, tanta irresponsabilidade, com tamanha falta de zelo? Os pais representam o referencial das crianças, suas atitudes e ações contribuem para a formação do caráter e índole de seus filhos. Como cobrar dessas crianças uma atitude que seja diferente daquelas dos seus pais se esses adultos foram o referencial da sua educação? Entendem a responsabilidade que temos sobre as crianças, sobre as futuras gerações? Conseguem entender o quanto a questão ambiental fica infinitamente mais fácil de ser resolvida quando TODOS, absolutamente TODOS, assumem sua responsabilidade diante das questões ambientais?

Ao passo de todos esses aspectos não podemos de forma alguma deixar de lado a responsabilidade que os gestores públicos, empresas privadas e produtores rurais também têm sobre a gestão equilibrada e ecológica do meio ambiente. Nenhuma ação deve ser desprezada ou realizada de forma individualizada ou descontínua. Os gestores públicos devem zelar para que todos os cidadãos tenham acesso ao meio ambiente efetivamente equilibrado e em condições de manter a sadia qualidade de vida, isso está na lei, é obrigação dos mesmos. Pagamos inúmeros impostos e podemos e temos o dever de cobrar dos nossos gestores públicos condições ambientais adequadas para que possamos viver e desenvolver nossas atividades de forma sustentável e que causem o menor impacto possível ao meio ambiente. Do mesmo modo as empresas privadas e produtores rurais também possuem sua responsabilidade ambiental pelas ações e seus respectivos impactos sobre o meio ambiente. Para que isso seja minimizado os mesmos devem realizar suas atividades de uma forma que causem a menor perturbação possível nos ambientes e seres vivos daquela região em questão.

Enfim, temos aí um “meio ambiente” que pede socorro dia e noite, que tem seus recursos exauridos por tantas atividades impactantes, que recebe diariamente e continuamente poluentes diversos e que tenta, a duras penas, sobreviver de alguma forma. A legislação nos garante o acesso ao meio ambiente ecologicamente equilibrado e para isso mostra as nossas obrigações para que essa situação aconteça. No entanto, para que o despertar da consciência ecológica aconteça é necessário o despertar do afeto efetivo pela natureza e pelo meio que nos cerca. Acredito sim que um dia chegaremos ao nível de consciência ambiental onde o meio ambiente será mais do que apenas um simples fornecedor de recursos, mas para isso precisamos mudar a mentalidade e visão que temos atualmente sobre ele, sobre sua importância e sobre o papel que desempenhamos na sua conservação.

 

Por Editor1

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