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renato-souza-dona-cafe-nenem-patrocinioRenato Souza, 34 anos, é um apaixonado pelo café. Desde a primeira infância. “Eu tenho memória de o meu pai me levar para a lavoura”, diz. O pai trabalhava com a colheita em Patrocínio (MG), um dos mais destacados polos de produção de café do Brasil. Os tios plantavam café e, aos 18 anos, Renato já travalhava na Daterra Coffee, referência para praticamente todos os produtores de Patrocínio. No município, onde Renato nasceu em 1982, sua história não é incomum. A cidade, que começou a plantar os primeiros pés na década de 1970, tornou-se, com o passar dos anos, a “terra do café”, devido à excelência do produto cultivado na região do Cerrado Mineiro. “A forma do pessoal trabalhar em Patrocínio está ligada à cafeicultura, que é o que determina a renda per capta da cidade”, explica Renato. Coordenador administrativo e de qualidade da Fazenda Dona Nenem, na vizinha Presidente Olegário, desde muito cedo Renato seguiu essa forma de trabalhar. Na Daterra, começou como auxiliar de classificação. Basicamente, preparava os grãos para o degustador. “A Daterra é uma escola. Ali começou tudo. Tudo o que hoje o café mostra de tecnologia, lá eles já mostravam há dez, quinze anos”. Cerca de um ano depois de começar, Renato assumiu uma das duas fazendas da Daterra. “Eu era um garoto tomando conta de uma grande unidade de pós-colheita”, lembra. Não foi fácil. Renato tinha que coordenar o trabalho de pessoas muito mais velhas, às vezes com o triplo de sua idade e com experiências de vida e formações diferentes. Determinado, foi em frente. “Foi me dada a oportunidade e eu agarrei. Eu brinco com os meninos mais novos que a oportunidade bate na porta só uma vez”. Com dedicação e paixão, seu trabalho se destacou. “Lá atrás, com meu pai, eu conhecia de café natural, não conhecia nada de processos. Na Daterra, eu pude conhecer como era a separação, como se lavava o café, como se tirava a poupa, aprender sobre exportação”, conta.  Em 2010, o trabalho de Renato chamou a atenção do empresário Eduardo Pinheiro Campos, proprietário da Fazenda Dona Nenem e membro de uma família que tradicionalmente se dedicava à cafeicultura. “Eduardo tinha interesse em trabalhar com café de qualidade. Queria que o nome da Dona Nenem aparecesse, além de agregar valor ao produto dele”, conta Renato. Como Eduardo não morava na região, precisava de alguém capaz de tocar todos os processos na fazenda. Foi assim que trouxe Renato. Ele lembra que, nessa época, a fazenda dependia muito de consultorias e de serviços de terceiros. Começou então um trabalho que se tornou referência. Em 2011, a Dona Nenem ganhou prêmios da Rainforest Alliance, uma das principais certificadoras do café do mundo. Em 2013, um dos lotes da fazenda foi para o leilão da Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA). “Teve até briga”, lembra Renato, “tinha compradores que levavam três, quatro sacas”, se diverte. O Prêmio da Região do Cerrado Mineiro, em 2014, foi o coroamento do trabalho. “Foi quando despontou mesmo, quando nós conseguimos levar esse nome da Dona Nenem para fora. Deixamos de procurar nossos parceiros e os parceiros hoje nos procuram”. E não são só torrefadoras. As cafeterias também procuram a fazenda. Hoje, o produto da Dona Nenem é exportado para diversos países, principalmente Itália, Holanda e Japão. Resultado, em grande parte, do trabalho coordenado por Renato. Os processos, sobretudo pós-colheita, são muito rigorosos na Dona Nenem. “Nós fazemos a coleta de cada planta de todos os lotes, fazemos o mapeamento de qualidade de todos os setores da fazenda e, na safra, corrigimos o necessário, provando o café de novo e vendo o que se manteve e o que se desviou”, conta Renato, com uma fala tranquila, mas apaixonada. “É paixão primeiro, você tem que gostar. Se não gostar, ninguém realiza nada, não. Sou um apaixonado pelo café, sou apaixonado pelo que eu faço. Desde quando você vê a cereja chegando no pós-colheita até a entrega do produto é como você criar um bebê e entregá-lo na faculdade, por exemplo”, diz. Quem o vê falar com tanta paixão, não imagina que Renato cultiva outra além do café. Não fosse por um problema no ombro, talvez sua história tivesse sido outra. Isso porque, na adolescência, vendo-o atuar em peladas em Patrocínio, um empresário decidiu investir no menino. Foi assim que ele foi jogar futebol nas categorias de base do Clube Atlético Paranaense. Ficou alguns anos em Curitiba. Depois da contusão, voltou a renato-souza-dona-cafe-nenem-patrocinio3Patrocínio. E ao café. O próximo passo na Dona Nenem é lançar uma marca própria, a exemplo do trabalho feito por outros cafeicultores locais, que apostam em marcas e rótulos especiais. O “Mito”, como será chamado, deve chegar aos mercados em breve. Quanto ao próprio futuro, Renato é modesto e discreto, como sempre. “Eu quero ser um profissional respeitado e admirado. Eu não me vejo como um produtor, me vejo como um profissional que cuida do produtor”. Cuida mesmo. Com os cuidados de um pai.

Por Editor1

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