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Ana pela América

8//04/2016- 16:40

PorEditor1

abr 8, 2016

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Depois de chegar a Vinã del Mar, no Chile, conhecer a capital Santiago, pedalar pela orla do Pacífico, a aventureira Ana Laura decide voltar para a Argentina, com o objetivo de alcançar o norte do país, desbravando novos rumos pelo deserto, no entorno da Cordilheira dos Andes.

A araxaense Ana Laura Teixeira, tecnóloga em alimentos, de 25 anos, iniciou sua aventura no dia 27 de fevereiro, partindo da cidade de Ushuaia,  no extremo sul da Argentina, com objetivo de percorrer sete países da América do Sul, utilizando, como transporte, sua bicicleta. Pretende ficar um ano viajando. O Jornal Interação está acompanhando, relatando os principais capítulos dessa aventura. Ana descreve mais esta etapa cheia de desafios.

Para otimizar a viagem, voltou até a cidade de Mendoza, na Argentina, de ônibus, e de lá até Salta, no norte, uma carona bem-vinda de caminhão. Na cidade, conheceu alguns cicloviajantes que estavam vindo de San Pedro de Atacama, que fica no norte do Chile, trazendo as informações restantes para certificar, para conhecer o deserto mais alto e árido do mundo.

Vontade e disposição refeitas, sabendo que a missão não seria fácil para enfrentar serra, calor durante o dia e muito frio durante a noite, pouca estrutura no percurso [além do joelho que insiste em incomodar durante as grandes pedaladas], mesmo com tudo isso, determinação e muita vontade foi o suficiente para encarar a grande batalha. Antes disso, em Salta, aproveitou a estadia na casa de uma senhora que conheceu em Ushuaia e foi conhecer o entorno da Praça 9 de Julio [coração do centro histórico da cidade], com suas igrejas e Museu de Arqueologia de Alta Montaña, que está relacionado à história de civilização Inca. O novo desafio começou no dia 25 de março: “Saí bem cedo, rumo a San Salvador de Jujuy, pela ruta 9, chamada ‘caminho da montanha’. Foram 96 km bem tranquilos. Os primeiros 20 km foram de subidas intensas, mas depois, só alegria. A estrada passa por cidade de Vaqueros, La Caldera e El Carmen, tem inúmeras curvas, e a vegetação, uma vista exuberante e cativante. O percurso atravessa as Yungas da área, é estreita e mal passam dois carros juntos! De qualquer maneira, é maravilhoso. Existem áreas de deslizamentos de terra, e a visão de sentido contrário é quase zero, favorecida pela pouca circulação. A paisagem é esplêndida e única”, relatou Ana. Foi um percurso de seis horas até o destino do dia, com um merecido descanso em um hotel na Vila. No dia seguinte, sem muita bagagem, um tour para Purmamarca, um vilarejo muito bonito, onde está localizado o famoso Cerro de los Siete Colores ou Morro de Sete Cores. Distância relativamente pequena para quem está enfrentando grandes desafios, os 63 km foram sob muito calor, aumentando muito o desgaste, com a sensação de ter feito 100 km. A estratégia de manter um ritmo mais lento, com boa alimentação e muita hidratação, ajudou muito a transpor o percurso com muita admiração do caminho, onde a vegetação, em torno da estrada, vai mudando rapidamente, saindo do verde exuberante para o semi-árido. Ao entardecer, de volta à Vila, duas diárias em um camping foi o suficiente para um bom descanso e passeios próximos como em los Colorados, um trecho de quatro quilômetros, que sai do centro da cidade e percorre por montanhas coloridas que ficam em volta da vila. Refeitas as energias, o desafio seria grande. De início, a Cuesta de Lipán, uma serra de 40 km de subida: “Mal podia acreditar que estava ali. Foram sete horas e meia para subir 40 km! Algumas pessoas pararam para oferecer carona para acabar de subir e, mesmo cansada, recusava, pois era uma coisa que queria muito fazer. Seria uma conquista para mim. Fui alternando paradas, para descansar. Com um sacrifício enorme, consegui chegar até o topo. Parecia um sonho!”,  contou, emocionada, a guerreira Ana. O desgaste me trouxe muita dor de cabeça e um pouco de falta de ar, proveniente de muito esforço e pelo ar rarefeito propiciado pelos 4.100m de altitude em relação ao nível do mar, um feito, algo bem próximo ao limite humano.  Após a subida, uma descida de 10 km até Salinas Grandes [são como uma miragem], uma área branca e plana de sal com uma estrada passando ao meio, um local com parada obrigatória para descansar, onde nativos vendem artesanatos e oferecem passeio turístico pelas Salinas. Um viajante de bike cortando grandes distâncias chama atenção por onde passa. Uma jovem solitária, vinda de outro país tão distante, impressiona a todos que deparam com a situação. Ana está sempre assediada por curiosos que querem saber quem ela é, de onde vem e para onde vai. Contando sua história para um guia turístico, acabou descolando uma volta de moto por aquele lugar inexplicável. Foram 30 minutos por aquele deserto de sal. É uma sensação estranha estar cercada de branco, de céu e de planície… Mexe com a nossa noção de espaço e nosso senso de direção: um ponto que parece longe, está, na verdade, a poucos metros de distância, o suficiente para perceber a falta que faz um referencial. Isso é o que torna o lugar mais interessante”, concluiu Ana Laura. O local não tem restaurantes na região, a estrutura turística se resume a alguns banheiros químicos a troco de poucos pesos, e comerciantes que vendem artesanatos típicos produzidos com sal. O próximo objetivo era Susques, que estava a 70 km dali. Restando parte do dia, adiantar a viagem sempre é bom. Depois de 13 km de Salinas, uma casinha de barro e um senhor trabalhando na parte de fora, fazendo uma casinha para seu cachorro, despertou o interesse de uma pernoite naquele local cativante. Permissão concedida e, de quebra, foi-me oferecida uma garagem feita de barro e lata, onde poderia armar barraca. Já anoitecendo, jantinha prática, de um pão com sardinha, não demorou muito, o sono chegou cedo, junto com vento forte e muito frio que não incomodou diante de muito cansaço e desgaste. O sol chegou cedo, mostrando que estava disposto a mostrar sua força. Entre levantar acampamento e partir, foram duas horas. Saída às 8h, rumo a Susques, uma pequena vila que estava a 57 km, mas que, pelo grau de dificuldade, a sensação é de 120 km pedalados. Uma vila com pouca estrutura, umas empanadas feitas na hora, uma pensão na entrada, o suficiente para repor as energias e sair cedo rumo a Paso de Jama, a fronteira da Argentina com Chile. Outro dia bastante difícil. Saída às 5h, com pedaladas até as 16h, superando 100 km muito tensos. A pernoite na fronteira exigia boa noite de sono para superar os  155 km, em dois dias, em meio do deserto que viria pela frente. Decidindo onde iria montar minha barraca, veio Esteban, que estava em um caminhão que transporta carros. Perguntou-me onde estava indo e se queria uma carona até San Pedro de Atacama, pois iria passar por lá. São momentos mágicos! Quando a decisão rápida proporciona muita ansiedade, o desafio está em balancear o custo/benefício com equilíbrio, em que a emoção, a coragem, o medo, o bom senso e as dúvidas se afloram, buscando definir algo que insiste em parecer que não deveria ser definido naquele momento, mas que teria que ser naquela hora. “Como minha comida estava pouca e tinha medo de não dar para chegar até Atacama, não pensei duas vezes. Adiantei dois dias da viagem. Ainda bem que resolvi seguir 155 km com ele, pois pelo caminho, percebi que sofreria com a falta de comida e que seriam 155 km bem difíceis como os anteriores”, concluiu a destemida Ana.

Ana chegou a San Pedro de Atacama, norte do Chile, lugar místico, rico em história dos ancestrais, Incas e Maias, lugar exuberante no meio do deserto mais árido do mundo, com o objetivo de descansar e curtir o local. Ana pretende ficar alguns dias em San Pedro de Atacama, com a possibilidade de arruma um serviço por um mês para desfrutar melhor desse deserto incrível! Se os ares mudarem, continuará a trip rumo à Bolívia. O Jornal Interação vai continuar acompanhado esta guerreira destemida, trazendo mais histórias para você acompanhar esta grande aventura.

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San Pedro de Atacama

San Pedro de Atacama é uma cidade da província de El Leoa, na região de Antofagasta, que serve como base para se explorar o Deserto do Atacama. Fica ao norte do Chile fazendo fronteira com a Bolívia e com a Argentina. Sua população gira em torno de 3 mil habitantes. Não tem aeroporto na cidade. A estrada que liga Calama a San Pedro de Atacama é muito árida. É o ponto central de uma região com astral místico. Alguns lagos abastecem a região de água o ano inteiro. Isso explica a presença da vegetação. Canais de irrigação ajudam na distribuição da água pelo vilarejo de ruas estreitas, chão de terra batida e pequenas casas de adobe. Pelas vielas empoeiradas, uma gente simples com traços indígenas se mistura a turistas do mundo todo. É fácil perceber a energia que o lugar emana e entender porque o Atacama é considerado um dos centros magnéticos da Terra.IMG-20160402-WA0018 IMG-20160402-WA0020 IMG-20160402-WA0024 IMG-20160402-WA0026 IMG-20160402-WA0030 IMG-20160402-WA0032 IMG-20160404-WA0022 IMG-20160405-WA0012 IMG-20160405-WA0013 IMG-20160405-WA0015 IMG-20160405-WA0016 IMG-20160405-WA0024

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