“Eu estou perplexo e muito assustado! Trata-se de uma situação revoltante e precisa haver uma luta em conjunto com as polícias para a sua reversão. É bandido que tem que ter medo da gente, e não nós termos medo de bandido! Eu, como juiz de Direito, não vou permitir que Araxá permaneça desse jeito. Não estou aqui para criticar os profissionais policiais que atuam na segurança pública da cidade, mas na comarca onde sou administrador da justiça, tenho vivenciado e assistido, nos últimos seis meses, a um aumento muito grande da criminalidade no município. Eu não vejo polícia na rua. A culpa não é só da Polícia Militar. Conversei com os dois últimos prefeitos e pedi para eles a implantação da Guarda Municipal, mas até agora não saiu do papel. Agora estamos enfrentando um problema muito sério e muito grave, que é o aumento da criminalidade”. O desabafo cheio de revolta e indignação do juiz de Direito da vara criminal da comarca de Araxá, Renato Zouain Zupo, em razão da situação de insegurança pública instalada no município nos últimos meses, aconteceu no início da tarde da última terça-feira, dia 29 de março de 2016, no Fórum da cidade, durante uma concorrida entrevista coletiva junto à imprensa local. Os relatos e cobranças de Zupo a respeito do aumento da criminalidade em Araxá foram inflamados e duraram 41 minutos. Na entrevista, o juiz fez várias revelações sobre a situação atual da segurança pública de Araxá, e conta que o problema é muito mais sério do que se imagina e que, para se reverter o quadro, é preciso muito mais que vontade política e gestão: é preciso ação e atitude já! Ele afirmou que “não adianta construir casa para a população, sem construir escolas, hospitais, creches, melhorar o trânsito e garantir a segurança com policiamento ostensivo”. O juiz ainda disse que já conversou com o ex-prefeito Jeová e com o atual, Aracely de Paula, e solicitou a implantação da guarda municipal e instalação das câmeras de monitoramento para auxiliar as polícias no combate à criminalidade no município. “ Essas ferramentas e serviços poderiam auxiliar e desafogar as ações da Polícia Militar”. Ele também disse que recebeu várias reclamações de que o serviço ‘190’ da Polícia Militar não está funcionando. “Triste é quando o cidadão precisa do serviço ‘190’ [telefone da Polícia Militar], e não consegue falar. Muitas pessoas que eu conheço, numa emergência, ligam para um policial amigo porque o ‘190’ não tem funcionado a contento. Aliás, nada tem funcionado a contento”. A reportagem do JORNAL INTERAÇÃO indagou ao juiz se o problema seria falta de gestão, e ele respondeu: “Eu não posso dizer isso, porque eu não vivo gestão interna do Quartel da Polícia Militar de Araxá, mas eu converso muito com o atual comandante [Tenente Coronel do 37º BPM de Araxá Arnaldo Pereira Júnior] e eu digo para ele que eu sou consumidor da PM e nós todos da sociedade somos. É aí que a gente vê o resultado da ação da PM ou a falta do resultado, e eu estou vendo a falta desse resultado. E digo que não é de meu hábito caças às bruxas, cortar cabeças, não é isso que eu estou pedindo. O que eu estou pedindo é uma mudança radical de posicionamento e que a população de Araxá tem que voltar a ver polícia nas ruas, tem que voltar a se sentir tranquila. É preciso atitude!” Zupo ainda fez uma revelação mais preocupante em relação ao perfil dos criminosos que estão atuando em Araxá nos últimos meses: “Notamos que o criminoso está mais cruel. Ele está usando mais instrumentos que cortam e perfuram, mais réplica de arma de fogo, o que não faziam antes.” E o juiz concluiu a entrevista em tom de desabafo e revolta desta forma: “Nós não podemos continuar lidando com prostíbulo e boca de fumo a céu aberto, à luz do dia. Tem lugar, em Araxá, que tem toque de recolher e quem manda é traficante. Tem bairro de Araxá que viatura da PM não entra sozinha. Isso é Rio de Janeiro ou Araxá? Então vamos baixar a bola, vamos consertar isso aí! Segurança pública é responsabilidade de nós todos! O Judiciário está à disposição para ajudar os nossos irmãos da Polícia Militar, mas eu preciso de atitude deles. Eu já cobrei muitas vezes essas atitudes por escrito. O Tenente Coronel Arnaldo é um profissional sério, ele tem tentado, tem modificado as táticas, ele tem pedido e obtido ajuda do Poder Judiciário e a ele também frustra o atual estado da segurança pública de Araxá, mas eu repito que sentimento não basta. Nós queremos atividade e resultado. Profissional de segurança pública é igual a um técnico de futebol: vive de resultado. Eu preciso de polícia na rua, eu preciso de bandido preso. Polícia, para mim, não é polícia comunitária, não é polícia para fazer palestra… Polícia, para mim, é polícia para prender bandido. Eu quero polícia na rua prendendo bandido”.
O outro lado…
A Polícia Militar
Ainda na tarde da terça-feira, dia 29 de março de 2016, o comando do 37º Batalhão da Polícia Militar de Araxá admitiu que, nestes primeiros meses de 2016, a criminalidade aumentou no município de Araxá. No entanto, o Comandante do BPM local, tenente-coronel Arnaldo Pereira Júnior, fez ponderações e discordou de alguns pontos citados pelo juiz da vara criminal de Araxá, Renato Zouain Zupo, em sua entrevista coletiva à imprensa local. O militar disse estar ciente de que os atuais números da criminalidade estão fora do padrão de uma cidade do tamanho de Araxá, mas assegurou: “Tudo que está ao nosso alcance está sendo feito para garantir a segurança e tranquilidade à população araxaense, e vamos restabelecer toda segurança e confiança a nossa comunidade.” Pereira também ressaltou que “a PM de Araxá está 24 horas por dia nas ruas, todos os dias da semana e os 365 dias do ano. Pode ser que alguns cidadãos não notem a nossa presença em certos locais. Mas não existe, na cidade, zona de exclusão de policiamento na cidade de Araxá. Toda e qualquer localidade dentro do município e na zona rural de Araxá está sendo policiada.” O comandante do 37º BPM ainda defendeu o serviço ‘190’. “Não teve, até agora, nenhuma queixa a respeito do não atendimento do 190. O cidadão que tiver alguma reclamação sobre o ‘190’ deve procurar o comando do 37º BPM para reclamar, e não em outras instituições.” Na tarde de ontem [sexta-feira], dia 31 de março de 2016, o comando do 37º BPM de Araxá concedeu uma entrevista coletiva à imprensa local para tratar, com mais detalhes, sobre a pendenga. Outras informações, na próxima edição do JORNAL INTERAÇÃO.
A Prefeitura de Araxá