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DIVIDINDO ESPAÇO EM ARAXÁ

18//07/2014- 18:45

PorEditor1

jul 18, 2014

Por: Lobo Júnior

Sempre tratamos as cidades que ultrapassam os 100.000 habitantes como “invasoras” vorazes das matas em seu entorno, seja em prol de condomínios de luxo, loteamentos populares ou mesmo parques industriais, porém longe está de contradizermos tal afirmação. É fato verídico, quer aceitemos ou não. O aumento populacional clama por mais e mais áreas para acompanhar o seu desenvolvimento inexorável e… pronto, está aí a cerne do problema ecológico mais conhecido: PERDA DE HABITAT por parte de algumas espécies. Quando matas nativas são abertas para receber construções, asfaltos e etc, pequenos ecossistemas inteiros podem desaparecer e, de uma hora para outra, condenar espécies à extinção mesmo antes de serem catalogadas ou sequer conhecidas pela comunidade científica. Num segundo ato tem-se o efeito “bola de neve” da conhecida e emaranhada cadeia alimentar, pois onde somem específicos alimentos vitais à determinados animais, tais ausências são repassadas ao degrau superior dessa harmônica relação entre os seres vivos construida pela evolução.

Há contudo uma certa resistência/teimosia por parte de algumas espécies que nos encantam por seus resilientes esforços em manter-se nesse novo cenário composto por prédios, antenas, jardins exóticos. E não estamos falando das pragas urbanas, tampouco mamíferos ou diminutos insetos (apesar de excessões também por parte destes). Trata-se dos descendentes diretos dos famigerados dinossauros: AVES. Essas frágeis criaturinhas de ossos ocos, para facilitar seu vôo, nos tem surpreendido com suas demonstrações de adaptabilidade, algo que nos é peculiar desde nosso exôdo do continente africano há poucos milhões de anos atrás, mas notável aos emplumados animaizinhos. Por exemplo, não é incomum acordamos com o cantar ou cruzarmos com o Bem-te-vi ( Pitangus sulphuratus ) em toda a cidade, quando não esbarramos com seu admirável senso de oportunismo visto em estranhos logradouros escolhidos para à construção de seus ninhos (foto A). Somemos a isso algo comum em todas as espécies bem sucedidas do ponto de vista darwiniano, inclusive aos humanos: Uma dieta diversificada, que no caso do Bem-te-vi incluem, além de pequenas frutas (nacionais ou não), insetos, peixinhos e inclusive filhotinhos de outras aves menores. Pode parecer pouco mas lembremos que alguns animais são exclusivistas nesse quesito. Coalas só se alimentam de folhas de eucalipto (e não mais do que umas 5 variações da árvore). Outra ave que tem convivido bem  conosco na região metropolitana de Araxá é a Lavadeira ( Fluvicola negenta ). Esta hábil frequentadora de cursos d’água , alimenta-se de insetos adultos ou que acabaram por emergir de seu estado larval. Também pode ser vista rondando chiqueiros, local que atrai uma meríade de artrópodes. Na foto (foto B), tirada na Av. Wilson Borges, nossa criaturinha pacientemente aguardava ” Aleluias” surgirem por entre as frestas da tampa do bueiro para abocanhá-las antes mesmo destas voarem para acasalar-se.

Vale lembrar também dos Psitacídeos, a famílias dos papagaios, maritacas, araras e periquitos. Em nossa cidade avistamos inúmeras espécies dessas engraçadas e barulhentas aves que colorem o concreto (foto C) e fazem aquela algazarra em nosso telhado, caixa d’água, tanto como se estivessem numa Macaubeira ou Mangueira. Nossas construções ainda podem servir de moradia temporária, na forma de ninhos, para pássaros como andorinhas, rolinhas, corujas e até, dependendo da casa, Urubus-pretos ( Coragyps atratus ). Mas o mais admirado dentre os que nidificam em nosso quintal é sem dúvida o João-de-Barro ( Furnarius rufus ), cujas “casas” são objeto de desejo por muitas pessoas. Vale lembra que sua remoção trata-se de crime ambiental, portanto passível de detenção e multa, mas que é engenhosa e cheia de lendas e crendices, não resta dúvidas.

Claro está que somos um fator determinante nesse processo  todo. Afinal  Pombos, Pardais e Bicos-de-lacre não vieram sozinhos de suas terras natais, tomando assim nichos ocupados antes por outras aves que desapareceram por aqui, como foi o caso do Pintassilgo-de-cabeça-preta ( Carduelis/Spinus magellanica ), nesse caso específico a captura por parte dos que queriam “possuir” seu belo canto contribuiu também. Nossa presença acelera o processo evolutivo mesmo com inocentes atos, como introduzir frutas exóticas, como Mamão, Abacate ( cuja presença benefecia com um alimento de grande valia a tucanos, sanhaços, algo equivalente como dar esteróides  visando ganhar uma competição )ou, na contramão, desmatando áreas onde Araçás, Marmelada-de-cachorro e afins existem já em pequena escala, podendo serem alimentos exclusivos de certas espécies. O fato é que ao darmos velocidade  ao que a natureza levou milênios para selecionar, aptos ou não, cabe a nós pensar como somos também ingênuos ao concluir que acabaríamos com toda a vida nesse planeta tão soberbo que chamamos de casa. Só podemos então parafrasear o filósofo: “Só sabemos que nada sabemos”.

 

Por Editor1

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