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São Paulo, (AE) – Roberto Taddei era jornalista, mas queria ser escritor. Socorro Acioli já tinha lançado alguns livros infantis e juvenis, mas queria dar um salto mais alto. Ele arrumou a mala em 2007 e foi fazer mestrado em escrita criativa na Universidade de Columbia, em Nova York.
Ela penou, mas conseguiu, em 2006, uma vaga num diminuto, mas ao que parece transformador, curso com o escritor colombiano Gabriel García Marquez em Cuba. Da experiência tão particular de cada um surgiu um livro – o dele, Terminália, era obrigação, a dissertação de seu mestrado; o dela, A Cabeça do Santo, a promessa feita ao ídolo de que jamais abandonaria seu projeto literário.

Taddei e Acioli foram longe. Investiram tempo e dinheiro, e voltaram satisfeitos. As obras que escreveram chegam agora às livrarias – num momento em que cursos como os que procuraram fora do País se tornam cada vez mais profissionais e mais frequentes por aqui. Claro, ainda não são tão abundantes como nos Estados Unidos, terra das oficinas de escrita criativa onde, estima-se, há 500 delas.

Tampouco há algum ministrado por um prêmio Nobel, como era o de Cuba – García Marquez, senil segundo seu irmão, retirou-se da vida pública. No entanto, há opções para todos os níveis, objetivos, gostos e bolsos, e muitos deles com início nas próximas semanas.

Pioneiro no ensino do ofício da escrita, o gaúcho Luiz Antonio de Assis Brasil criou sua oficina – por onde passaram nomes como Daniel Galera, Michel Laub e LuisaGeisler – há mais de 30 anos. E vem, nesse tempo todo, acompanhando o interesse do brasileiro por cursos de formação de escritor.
“O crescimento foi espantoso. Quando comecei, as pessoas procuravam a oficina para melhorar o texto; hoje, procuram-na com a decisão de tornarem-se escritores”, comenta. Sua oficina anual, realizada na PUC de Porto Alegre e com vagas apenas para 2015, deu cria. Em 2010, a universidade gaúcha abriu turmas de mestrado e doutorado em Escrita Criativa.

A jornalista Rosangela Petta foi aluna de Assis Brasil em 2010. Ainda não publicou um livro, mas da experiência trouxe para São Paulo o próprio curso. Naquele mesmo ano, ela fundou, com o apoio do professor, a Oficina de Escrita Criativa. Há, aqui, um curso como o de Porto Alegre, anual e já com vagas esgotadas para 2014. Mas há uma série de outras oficinas começando agora para quem quer escrever biografia, conto, crônica, livro infantil, etc., ou para quem quer apenas melhor a escrita.

O escritor João Silvério Trevisan é dono de uma das mais longevas oficinas paulistas – está na ativa há 27 anos – e defende o ensino da escrita. “Não acho que a literatura caia do céu. A musa não existe. Ela morreu de fome por falta de pagamento de direitos autorais”. brinca. Sobre essa questão, Assis Brasil cita Maiakovski: “É a técnica que liberta o talento ”

Para Trevisan, é importante que o aluno tenha um projeto, uma ideia do que será a sua obra. E foi isso Socorro Acioli aprendeu com García Marquez. “Ele dizia que é preciso saber a história que eu pretendo contar assim como sei resumir o conto da Chapeuzinho Vermelho”, diz. E completa: “Se eu não tiver clareza do meu universo ficcional, o leitor nunca terá e a narrativa não vai funcionar. Outra dica que levei pra vida foi a de só sentar para escrever quando tiver o eixo da narrativa já definido – começo, meio, fim.”

Depois da experiência cubana, a escritora fez outros três cursos – dois com o americano Robert McKee e outro com o mexicano Guillermo Arriaga. A Cabeça do Santo, o livro de Socorro, foi planejado de 2006 a 2010 e escrito de 2010 a 2013.

Ele conta a história de Samuel, que sai em busca do pai e encontra abrigo na cabeça de uma estátua de Santo Antonio, Descobre, assim, que tem o dom de ouvir as orações das moças, passa a arranjar casamentos e a fazer chantagens. Antes de ser lançado, os direitos dos livros já tinham sido vendidos para a Inglaterra.

Já Roberto Taddei, na volta de sua temporada nova-iorquina, passou a dar cursos em casa até que foi chamado para dar aulas na recém-criada pós-graduação latu sensu Formação de Escritores, do Instituto Superior de Educação Vera Cruz. Hoje, é um dos coordenadores do curso e trabalha em outros dois romances.

Aos que têm vontade de se tornarem escritores ou apenas escreverem um livro, Assis Brasil deixa cinco dicas: “Ler muito, escrever muito, acompanhar a crítica literária em periódicos, ouvir a avaliação de bons leitores e, se possível frequentar uma oficina literária reconhecida por seus frutos.”

Por Editor1

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