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São Paulo, (AE) – Eles têm aulas de educação financeira e empreendedorismo e ainda aprendem inglês. A rotina parece de um curso para executivos, mas é das salas de pré-escola e dos primeiros anos do ensino fundamental em alguns colégios particulares de São Paulo. Na tentativa de renovar e conectar os currículos ao cotidiano, surgem cada vez mais disciplinas que tentam traduzir para as crianças elementos próprios do universo adulto.

A proposta da Escola Sol da Vila, na Vila Madalena, zona oeste da capital paulista, é multiplicar as possibilidades de estímulos às crianças. Antes mesmo de aprender a falar, alunos no berço – a partir de 8 meses – já têm aulas de inglês. “A ideia é que eles se acostumem desde cedo com os sons do idioma”, afirma a diretora da escola, Juliana Quege.

Nas classes e nos corredores do colégio, a professora é orientada a se comunicar em inglês o tempo todo: os meninos nem sabem que ela domina a língua portuguesa. No cardápio de disciplinas, também constam classes de inteligência emocional, que discutem valores éticos, a administração de sentimentos e os desafios de convívio dentro da família e com os amigos.

“Precisamos fazer com que eles reflitam sobre como evitar conflitos”, afirma Juliana. Outro item é a educação financeira a partir dos 3 anos. Ao contrário do que se pensa, a disciplina não exige habilidade com calculadoras. O foco é mostrar a importância de evitar consumos exagerados e poupar para atingir objetivos.

Ao longo do ano, as crianças estabelecem pequenas metas – ir ao cinema ou fazer um lanche especial – e planejam como juntarão dinheiro nos cofrinhos para alcançá-las. O método usado é o Dsop (Diagnosticar, Sonhar, Orçar e Poupar), criado por uma consultoria especializada. “Usamos fábulas e brincadeiras para facilitar a compreensão e fazer comparações com o real”, afirma a diretora, que aponta a faixa etária como a melhor época para explorar esses temas. “É a fase em que mais assimilam informações”, defende.

A Sol da Vila não está sozinha. Entre as escolas que tratam de assuntos sérios com os pequenos, também está o Colégio Internacional Emece, em Perdizes, na zona oeste da capital, que dá aulas de Empreendedorismo e Ética já nos primeiros anos do ensino fundamental. O aluno Davi Marques, de 8 anos, começou na disciplina há poucas semanas e passou no primeiro teste: pronuncia corretamente o nome da matéria. As próximas etapas, já iniciadas, são entender como as relações econômicas aparecem na vida. A “tia da cantina” é o exemplo mais próximo de empreendedora. “Na aula, falamos como é importante ela tratar bem a gente. Se não for assim, não compramos os lanches na cantina outra vez”, afirma Davi.

Além de aprender a lidar com o dinheiro, os alunos também escutam nas aulas sobre a necessidade de respeito entre os cidadãos. “Conseguimos trabalhar ainda com outras questões essenciais, como a preservação do meio ambiente, ao falar sobre o consumismo”, aponta a coordenadora pedagógica da escola, Solange Silvestre. As classes também ajudam a incrementar o repertório. “Como trazemos palavras mais difíceis, eles sempre usam o dicionário.”

Poupador mirim

O pai do aluno Enrico Mercúrio, de 5 anos, trabalha num banco, mas não é o único que entende de cifras na família. “Desde que o Enrico começou a ter aulas de educação financeira, ele aprendeu a poupar para ter os próprios brinquedos. Comprou até um tablet com as economias”, afirma a mãe, TalissaViolim, de 31 anos, orgulhosa. “É incrível como ele faz isso sozinho”, elogia.

Enrico estuda na escola Baby Nurse, na Vila Prudência, zona sul da cidade. Assim como no colégio Sol da Vila, as crianças definem metas em curto, médio e longo prazo. Os alunos fazem feiras, em que vendem brigadeiro e salada de frutas para os pais, com o objetivo de arrecadar dinheiro. “É interessante porque os meninos desenvolvem outras habilidades. Nas feirinhas, eram eles quem abordavam os pais para comprar e também calculavam o troco”, relata Talissa, que é fotógrafa.
De acordo com ela, a educação financeira foi uma oportunidade de aprender no colégio o que ela já tentava fazer em casa. “Sempre quis mostrar a meu filho o valor do dinheiro. Na escola, eles têm um método melhor para que as crianças entendam isso”, diz. Neste ano, as aulas com os cofrinhos ainda ajudarão Enrico a reunir os trocados que ganha dos tios e avós para comprar presentes. Em um futuro mais distante, ele também se vê ligado aos números e ao dinheiro. “Quero trabalhar num banco, igual ao meu pai.”

Por Editor1

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