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Para o governo racista da África do Sul nos tempos do apartheid, Nelson Rolihlahla Mandela não passava de um terrorista. Para quase todo o restante do mundo, porém, sua luta pela liberdade o elevou ao status de herói.

Nascido em Transkei, na província do Cabo Oriental, em 18 de julho de 1918, Mandela ainda era um jovem estudante de Direito quando envolveu-se com a oposição ao apartheid. De ativista, sabotador e guerrilheiro, Mandela converteu-se em Prêmio Nobel da Paz e em um dos maiores estadistas do crepúsculo do século 20

Em 1962, informações fornecidas pela Agência Central de Inteligência dos Estados Unidos (CIA, por suas iniciais em inglês) às autoridades sul-africanas levaram à detenção de Mandela.

Primeiro, ele foi condenado a cinco anos de reclusão por viajar ilegalmente ao exterior. Meses depois, porém, Mandela acabou condenado à prisão perpétua pelo regime sul-africano por envolvimento em atos de sabotagem. A sentença máxima prevista para as acusações era a de morte por enforcamento.

Entretanto, a pena de prisão perpétua não seria cumprida na íntegra. A partir da década de 1980, a pressão internacional sobre o regime racista sul-africano se intensificou. O país tornou-se alvo de sanções econômicas a partir de 1986.

Eleito presidente da África do Sul em 1989, Frederik Willem de Klerk suspendeu a proscrição do Congresso Nacional Africano (CNA) e de outros grupos de oposição e anistiou os opositores do regime. Nelson Mandela, membro do CNA, foi libertado em 11 de fevereiro de 1990, após 27 anos de cadeia – entre 1964 e 1982, foi mantido na famosa prisão de Robben Island, perto da Cidade do Cabo.

Por seu papel de resistência na brutal repressão do sistema do apartheid, que segregava negros e brancos, Mandela recebeu o Nobel da Paz em 1993. A biografia disponível no site do Nobel lembra que Mandela defendeu a luta armada nos anos 1960, porém na prisão tornou-se o mais significativo líder negro sul-africano e “um potente símbolo da resistência, quando o movimento antiapartheid ganhava força”.

Em 1994, Madiba, o nome de clã de Mandela que os sul-africanos usam para citá-lo afetuosamente, foi eleito presidente da África do Sul, tornando-se chefe de um governo de unidade nacional também representado por grupos minoritários, inclusive o Partido Nacional do ex-presidente De Klerk.

No novo governo, o arcebispo Desmond Tutu, que já ganhara o Nobel da Paz em 1984, foi indicado para chefiar uma Comissão de Verdade e Reconciliação, histórica tentativa de lidar com as feridas deixadas na sociedade pelo apartheid, quando os negros eram separados, não podendo, por exemplo, sentar ao lado de um branco no ônibus ou nos mesmos bancos escolares que eles. Além de expor a verdade sobre o período, a comissão anistiou os responsáveis pela violência durante o apartheid, com as lideranças preferindo buscar um país mais unido, evitando aprofundar as polarizações do passado.

Comentando o trabalho da comissão, Mandela pediu ao povo que “celebre e reforce o que fizemos como nação em um momento no qual deixamos para sempre para trás nosso terrível passado”. Mesmo após deixar o poder, Mandela manteve-se como uma voz poderosa no cenário internacional, sobretudo em questões relativas aos direitos humanos, e nos últimos anos era apontado como um símbolo da busca pela paz.

Saúde

Mandela teve vários problemas de saúde durante a vida e contraiu tuberculose durante seu longo período na prisão. Seus problemas de saúde fizeram com que ele decidisse se aposentar após cumprir o mandato presidencial de cinco anos. Apesar disso, ele se manteve como importante ator da política internacional até 2004, quando decidiu se retirar da vida pública.

Em 1985, ele passou por uma cirurgia por causa do aumento do volume da próstata e em 2001 foi diagnosticado um câncer no mesmo órgão, mas ele superou a doença após sete semanas de radioterapia.

Os problemas respiratórios intensificaram-se nos últimos anos. Mandela foi internado em janeiro de 2011 em um hospital de Johanesburgo. Autoridades disseram inicialmente que ele passaria por exames de rotina, mas foi revelado depois que ele sofria de uma séria infecção respiratória. O caos provocado pelos jornalistas e curiosos que entravam nas alas o hospital público onde ele estava internado fez com que o Exército sul-africano assumisse a responsabilidade pelos cuidados médicos do ex-presidente e o governo se tornasse responsável pelo controle das informações a respeito de sua saúde.

Em fevereiro de 2012, Mandela passou a noite em um hospital para diagnosticar as causas de persistentes dores abdominais. Em 8 de dezembro do mesmo ano, o presidente sul-africano Jacob Zuma informou que Mandela havia dado entrada num hospital militar de Pretória, a capital executiva do país, para exames de rotina, mas dias mais tarde foi revelado que ele estava com infecção pulmonar.

Em dezembro do mesmo ano, outra infecção pulmonar levou Mandela ao hospital, onde passou três semanas internado. O ex-presidente teve alta em 28 de dezembro e foi liberado pelos médicos para terminar o tratamento em casa. Logo após, o presidente Jacob Zuma chegou a pedir aos sul-africanos que rezassem por Mandela. Dias depois, o gabinete da presidência africana divulgou comunicado informando que o Nobel da Paz havia passado por uma cirurgia para remover cálculos biliares, e que havia se recuperado do procedimento cirúrgico e também da infecção pulmonar. Foi a internação mais longa de Mandela desde que foi libertado da prisão, em 1990.

Em abril de 2013, Mandela recebeu alta do hospital após uma internação de dez dias, a terceira em cinco meses, devido à recorrente infecção pulmonar. No entanto, um vídeo divulgado por uma rede de televisão da África do Sul mostrou o ex-presidente em uma poltrona, com sua cabeça sobre um travesseiro e suas pernas estendidas e cobertas por um lençol, com aspecto cinza e sério. Suas bochechas mostravam marcas do que parecia ser uma máscara de oxigênio removida recentemente.

Mandela voltou a apresentar problemas respiratórios e em 8 de junho voltou a um hospital de Pretória para tratamento de uma infecção pulmonar recorrente. Desde então, o estado de saúde do ex-presidente sul-africano e prêmio Nobel da Paz se tornou cada vez mais crítico.

A última aparição pública de Nelson Mandela foi na final da Copa do Mundo de Futebol, em junho de 2010.

Na noite do dia 05, em pronunciamento à nação, o atual presidente da África do Sul, Jacob Zuma, anunciou o falecimento de Mandela, aos 95 anos. (AE)

Líderes mundiais homenageiam Nelson Mandela        

Em quase sete décadas de luta por igualdade e liberdade, o líder antiapartheid Nelson Mandela inspirou milhões com suas ações e suas palavras. Agora, líderes e personalidades do mundo inteiro reagem à notícia de sua morte

“Mandela não pertence mais a nós”, declarou Barack Obama, primeiro presidente negro da história dos Estados Unidos. “Agora ele pertence à eternidade.”

O arcebispo sul-africano Desmond Tutu, que assim como Mandela recebeu o Prêmio Nobel da Paz pela luta contra o apartheid, agradeceu a Deus por ter tornado Nelson Mandela presidente da África do Sul em um momento crucial de sua história. “Ele nos inspirou a trilhar o caminho do perdão e da reconciliação e assim evitou que a África do Sul se incendiasse”, recordou.

O papa Francisco prestou “tributo ao firme compromisso de Nelson Mandela com a promoção da dignidade humana dos cidadãos de todas as nações e com a construção de uma nova África do Sul, erguida em bases sólidas de verdade, reconciliação e não-violência”.

Em Nova Délhi, o dalai-lama conclamou seus seguidores a “desenvolverem a determinação e o entusiasmo para perpetuarem seu espírito”.

O presidente chinês Xi Jinping, cujo país apoiou opositores do apartheid durante a Guerra Fria, elogiou a vitória de Mandela na iniciativa e a sua contribuição para “a causa do progresso humano.”

Em Diadema, o ex-presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva qualificou Mandela como “uma coisa boa que de vez em quando Deus projeta nas nossas vidas”.

A sucessora de Lula, Dilma Rousseff, divulgou nota de pesar na qual reconhece Mandela como “personalidade maior do século 20” e elogia “um dos mais importantes processos de emancipação do ser humano da história contemporânea: o fim do apartheid na África do Sul”.

A Comissão Nobel, que em 1993 concedeu o laurel da paz em conjunto a Mandela e ao último presidente branco da África do Sul, Frederik de Klerk, qualificou o líder da luta contra o apartheid como “um dos maiores nomes reconhecidos na longa história do Prêmio Nobel da Paz”.

O ex-secretário-geral da Organização das Nações Unidas (ONU) Kofi Annan disse que o mundo perdeu “um líder visionário, uma voz corajosa em defesa da justiça e uma clara bússola moral”.

O atual secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, disse que Nelson Mandela foi “um gigante pela justiça” que teve uma “luta abnegada pela dignidade humana, pela igualdade e pela liberdade” e inspirou muitas pessoas ao redor do mundo.

François Hollande, presidente da França, destacou a importância do legado deixado pelo ex-presidente da África do Sul, enquanto o primeiro-ministro da Índia, Manmohan Singh, prestou homenagem ao ex-presidente da África do Sul, Nelson Mandela, e o comparou ao ícone indiano da luta pela liberdade, Mohandas Gandhi.

A família real britânica também expressou seus sentimentos em relação a notícia da morte de Mandela. A rainha Elizabeth II declarou que “o legado de Mandela é a paz na África do Sul que vemos hoje”.

O primeiro-ministro do Reino Unido, David Cameron, lamentou a morte de Nelson Mandela e disse que uma enorme luz se apagou no mundo e que “Nelson Mandela foi um herói do nosso tempo”.

Já o ex-primeiro-ministro do Reino Unido, Tony Blair, qualificou Mandela como “uma figura única em um momento único” da história

O ex-presidente norte-americano Bill Clinton, por sua vez, afirmou que o mundo perdeu um seus líderes mais importantes e um de seus melhores seres humanos. “Todos nós estamos vivendo em um mundo melhor por causa de Mandela”, declarou.

O também ex-presidente dos EUA, Jimmy Carter, fez questão de mostrar sua tristeza com a morte do líder sul-africano. “Sua paixão pela liberdade e justiça criou novas esperanças para uma geração oprimida em todo o mundo e é por sua causa que a África do Sul é hoje uma das lideranças da democracia mundial.”

O ator Morgan Freeman, que interpretou Mandela no filme “Invictus”, declarou: “Neste momento em que nos lembramos de seus triunfos, vamos refletir, em sua memória, não apenas a quão longe chegamos, mas a qual longe ainda temos de ir”. (AE)

Mandela será sepultado no dia 15        

O histórico líder da luta contra o regime racista do apartheid, Nelson Mandela, será sepultado em 15 de dezembro, domingo. O anúncio foi feito pelo presidente da África do Sul, Jacob Zuma. O sepultamento, que contará com honras de chefe de Estado.

O presidente sul-africano aproveitou o anúncio para agradecer a todas as pessoas ao redor do mundo que estão enviando suas homenagens à família de Mandela.

Por Editor1

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